2 de outubro será a nossa resposta! – Contra

Editorial de Deixou Online

A situação política nacional está em um impasse. Bolsonaro não é forte o suficiente para executar um golpe bem-sucedido agora, mas ele não é tão fraco a ponto de cair imediatamente. Deste cenário decorre um equilíbrio precário e instável, que foi expresso na carta de desculpas de Jair Bolsonaro escrita por Michel Temer [Michel Temer – ex-président du Brésil après la destitution de Dilma Rousseff, en août 2016, impeachment qu’il a piloté – a écrit une lettre, reprise par Jair Bolsonaro, qui permettait au président de prendre, artificiellement distance, avec ses déclarations relevant de son orientation golpiste mise en relief le 7 septembre 2021].

Depois de mostrar sua força nas ruas em 7 de setembro, fazendo ameaças explícitas de um golpe, o presidente da milícia recuou taticamente dois dias depois. Terça-feira, 7 de setembro, ele mostrou que tinha a capacidade de mobilizar massivamente seus apoiadores em torno de bandeiras de golpe. Quinta-feira, 9 de setembro, ele foi forçado a recuar [lettre écrite par Michel Temer] diante da pressão da grande burguesia e do perigo de impeachment. Ele deu dois passos para frente, depois deu um passo para trás, mantendo a mesma estratégia de golpe de sempre.

O acordo expresso na “Carta Temer” tem dois aspectos fundamentais. Por um lado, revela que a burguesia – na sua maioria – não faz “impeachment nem golpe de Estado”, ou seja, quer preservar o governo até às eleições (a partir de outubro de 2022), ao mesmo tempo que procura, ao mesmo tempo, para conter o plano de golpismo do miliciano presidente. O cálculo do grande capital é que o processo de impeachment seria muito caro para seus negócios e reformas liberais, pois paralisa o país em um enfrentamento político e institucional de enorme intensidade e com consequências imprevisíveis.

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Além disso, a carta de desculpas preparada por Temer reflete o fato de que Bolsonaro não está em posição, no momento, de fazer avançar sua estratégia golpista. Não há apoio do imperialismo norte-americano (a administração Biden) para um golpe no Brasil, nem apoio da maioria da classe dominante nacional para esse objetivo. Além disso, o governo vive uma situação econômica marcada por maior desgaste popular. Tende a se intensificar com o aumento da inflação. Considerando esses fatores, não há evidências de que o alto comando militar seja favorável a uma aventura fascista, apesar do apoio político dos militares do governo. [et de ceux intégrés dans l’administration].

A solução provisória encontrada no topo reflete o impasse na situação política. No entanto, o acordo momentâneo dá a Bolsonaro tempo para recuperar parte da popularidade perdida e preparar os passos para uma nova perspectiva de golpiste. Não há dúvida: a eleição para o fascismo é de natureza tática, o elemento relativo à estratégia consiste em construir as condições da ruptura autoritária. Dar tempo a Bolsonaro, aguardando em silêncio as eleições de outubro de 2022, é brincar com fogo – um erro imperdoável.

A tarefa prioritária: construir o dia 2 de outubro para o impeachment!

A oposição de esquerda e centro-esquerda tem razão em afirmar a urgência da luta pela remoção de Bolsonaro. O desafio continua sendo transformar a maioria social em maioria nas ruas, para derrotar esse governo e esse golpismo o mais rápido possível. Nesse sentido, a campanha Fora Bolsonaro organizou um novo dia de mobilização nacional para o dia 2 de outubro. Nove partidos (PSOL, PT, PCdoB, PDT, PSB, PV, Rede, Solidariedade e Cidadania) se comprometeram, quarta-feira, 15 de setembro, a construir a mobilização de 2 de outubro. Também marcaram o dia 15 de novembro, para mais uma manifestação pelo impeachment. A intenção é envolver na construção dessas mobilizações todos os setores a favor do afastamento do Bolsonaro, inclusive a oposição de direita.

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O retumbante fracasso, no dia 12 de setembro, da manifestação do MBL (Movimento Brasil Livro, formação liberal) e Vem Pra Rua (movimento contra a corrupção), do qual João participou Doria, Ciro Ferreira Gomes, Luiz Henrique Mandetta e João Amoêdo, mostram que a capacidade de mobilização social desses setores é muito limitada. Mas isso não deve levar a uma posição sectária da esquerda em relação a eles. Ao preservar seu espaço político e suas bandeiras, a esquerda deve defender que todos os partidários do impeachment de Bolsonaro estão nas ruas no dia 2 de outubro, inclusive a oposição de direita.

Quanto mais representativa e ampla for a plataforma de manifestação em 2 de outubro e 15 de novembro, maior será a pressão contra o Bolsonaro. Nesse sentido, seria oportuno que Lula (PT), Boulos (Movimento dos Sem-Teto e Partido do Socialismo e da Liberdade), Ciro Ferreira Gomes, João Doria, Fernando Henrique Cardoso, Flávio Dino de Castro e Costa (Parti socialiste brésilien), Roberto Requião (Movimento Democrático Brasileiro), entre outras lideranças, estarão na mesma plataforma durante o evento. O envolvimento dos artistas neste movimento também é muito importante. Precisamos de todos os setores dispostos a participar dessa luta comum.

Consideramos que a construção da mobilização de 2 de outubro deve ser a prioridade absoluta da esquerda, de todos os movimentos sociais e de todos aqueles que percebem o perigo que representa o Bolsonaro. Não podemos perder um único dia. O compromisso de Lula com a convocação desse dia de mobilização – Lula que até agora se manteve distante diante dos protestos de rua – é fundamental.

É necessário disseminar o apelo à mobilização nos locais de trabalho, nos bairros periféricos e entre os jovens. Construir a mobilização de baixo para cima é essencial. Porém, para que tenha sucesso, é imprescindível o engajamento nas demandas mais sentidas pelos trabalhadores, como os efeitos da inflação, falta de empregos, abusos de direitos, baixos salários, vacinas insuficientes, reformas neoliberais, privatizações, entre os problemas que trabalhadores da praga. É necessário construir o vínculo entre a vida concreta das massas e as ameaças de um golpe de Estado. Afinal, Bolsonaro quer um golpe de estado para, antes de tudo, impor novos ataques às condições de vida dos pobres e também dos trabalhadores.

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A organização das mobilizações deve levar em conta a importância que elas têm nas capitais dos Estados. É preciso avaliar a possibilidade de construir caravanas de ônibus de todas as cidades do interior às capitais, de forma a concentrar forças nos grandes centros urbanos, como o Bolsonaro fez no dia 7 de setembro. Sindicatos, parlamentares e movimentos sociais devem contribuir com seus recursos e meios para a construção deste evento. Estamos lutando. Fora de Bolsonaro. Impeachment agora! (Editorial por Deixou Online, publicado em 16 de setembro de 2021; tradução pela equipe editorial de Contra; Deixou Online traduz as posições da corrente Resistencia do PSOL)

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