A antropóloga virá dar uma conferência no centro da exposição “Identidades do Brasil”, no Museu de Lodève, neste sábado, 3 de fevereiro.
De onde vem essa paixão pelo Brasil?
Depois do bacharelado passei a estudar antropologia. Me especializei neste país porque na época praticava capoeira. Escrevi minha primeira dissertação sobre a promoção da africanidade da capoeira. Queria saber mais indo ao Brasil por seis meses. Liderei então um projeto para criar um museu memorial da diáspora africana no Rio, onde os arqueólogos acabavam de encontrar objetos trazidos por escravos africanos durante o trabalho. E voltei para lá, ainda como parte dos estudos.
E desde então ele sempre te seguiu…
É isso. Esteve comigo durante metade da minha vida. Ao mesmo tempo descobri também a naturopatia, da qual hoje faço a minha actividade principal. Mas a antropologia nunca me abandonou. Continuo trabalhando com o centro cultural Pequena África, no Rio, do qual sou mediador intercultural. Seu presidente veio à França para diversos eventos de apresentação do centro e de seu projeto museológico.
O que marcou você na história do Brasil?
É esta visão dupla que podemos ter. De fora com o carnaval, o samba, o futebol ou a mestiçagem destacados como identidade específica, e de dentro para as populações locais. Lá a realidade é diferente para essas pessoas com múltiplas identidades, negras, brancas ou de populações primitivas… com muita discriminação para identidades “não brancas” que lutam para serem ouvidas e muitas vezes são vítimas da repressão policial. Eu estava interessado nesta história da raça mista e no mito da democracia racial.
Você já viu a exposição no Museu Lodève?
Ainda não. Vou descobri-lo no sábado, chegando de Lyon antes da conferência que abordará também esse projeto de museu com o centro cultural do Rio, demorado para se instalar, mas que segue seu rumo e a arte que permite libertar-se, fala conosco, facilita a partilha e a união entre pessoas como esses escravos que vieram com seu pedaço de cultura do continente africano para povoar o Brasil que inventaram a capoeira, símbolo de luta, em forma de dança, diante da opressão . . A conferência será uma oportunidade para traçar paralelos com as pinturas expostas no Museu Lodève criadas por artistas locais, novamente, com múltiplas identidades.