(Brasília) O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro se beneficiou de um esquema de vendas ilegais de joias e artigos de luxo oferecidos no Brasil e avaliados em um total de US$ 1,2 milhão, de acordo com as conclusões de um inquérito policial publicado nesta segunda-feira.
Na semana passada, a Polícia Federal recomendou indiciar Bolsonaro e outras 11 pessoas por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e peculato, por eventos ocorridos entre outubro de 2019 e o fim do mandato do líder de extrema direita em 2022.
Jair Bolsonaro, que denuncia como “perseguição” a profusão de investigações judiciais contra ele, nega ter cometido qualquer crime na gestão das joias.
Seu advogado, Paulo Cunha, disse na rede social X que os líderes brasileiros “não tiveram influência direta ou indireta” na gestão dos presentes oficiais.
A decisão de destinar doação ao patrimônio público ou ao presidente é tomada por uma comissão, segundo o Sr. Cunha. “Em nenhum momento ele pretendeu apreender ou ficar com bens que pudessem, de uma forma ou de outra, ser considerados públicos”, disse o advogado.
Segundo a polícia, o “grupo investigado atuou para desviar dos cofres públicos brasileiros diversos presentes de alto valor recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro”. […] durante viagens internacionais e fornecidas por autoridades estrangeiras”.
A operação tinha como objetivo vender as joias ao exterior “com o objetivo de promover o enriquecimento ilícito do ex-presidente”, indica a investigação.
Algumas das peças foram vendidas “e os valores obtidos foram convertidos em dinheiro e lançados no patrimônio pessoal do ex-presidente […] sem passar pelo sistema bancário formal”, acrescenta o relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
“Muitas outras correções”
Pelo menos US$ 25.000 teriam sido pagos a Jair Bolsonaro. O valor dos presentes “totaliza US$ 1,22 milhão”, corrigiu a polícia, após inicialmente dar uma quantia de US$ 4,5 milhões.
O campo de Bolsonaro aproveitou essa correção para desacreditar a reportagem. “Vamos esperar muito mais correções. A última será dizer que todas as joias ‘desviadas'” estão nas mãos das autoridades, escreveu o ex-presidente no X.
O juiz Alexandre de Moraes, do STF, deu prazo de 15 dias para que a Procuradoria-Geral da República decida se denunciará formalmente o ex-presidente.
A imprensa brasileira divulgou a história pela primeira vez em março de 2023, depois que autoridades fiscais apreenderam joias encontradas na mochila de um funcionário do governo Bolsonaro que retornava de uma viagem oficial ao Oriente Médio em 2021.
Entre os presentes estavam um anel, colar e brincos da marca suíça Chopard, avaliados em cerca de US$ 828.000, além de relógios Chopard e Rolex de ouro e diamantes, além de outras joias, de acordo com o relatório policial de quase 500 páginas.
Depois que o caso foi revelado, assessores de Bolsonaro recuperaram e devolveram ao estado alguns dos itens vendidos, segundo a reportagem.
Segundo a Polícia Federal, o dinheiro obtido com a venda das joias “poderia ter sido usado para cobrir despesas do Sr. Bolsonaro” nos Estados Unidos, onde ele permaneceu por alguns meses após seu mandato.