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Brasil: Maioria favorece povos indígenas em julgamento crucial sobre reservas


O “julgamento do século” que manteve os povos indígenas do Brasil em suspense durante meses atingiu um ponto de viragem na quinta-feira, com a maioria dos juízes do Supremo Tribunal afirmando o seu direito à terra.

Esta questão é cada vez mais importante porque os cientistas consideram as reservas indígenas como importantes defesas contra o desmatamento e, portanto, desempenham um papel fundamental na luta contra o aquecimento global.

“Vitória! O julgamento continua e estamos acompanhando com atenção, para que nenhum direito seja vendido”, comemorou a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) no X (antigo Twitter).

A maioria foi alcançada na quinta-feira, quando um sexto juiz, entre onze do mais alto tribunal do país, votou contra a tese do “prazo”, durante este longo julgamento que começou em agosto de 2021 e foi suspenso várias vezes. .

Então outro juiz deu o sétimo voto contra. Nas sessões anteriores, dois desembargadores votaram a favor da decisão.

A tese do “prazo”, defendida pelo poderoso lobby do agronegócio em nome da “segurança jurídica”, reconhece como legitimamente propriedade dos povos indígenas apenas aquelas que eles ocuparam formalmente ou reivindicaram no momento da publicação da lei. Constituição em 1988.

Mas os indígenas explicam que algumas áreas deixaram de ser ocupadas por eles naquela época porque foram expulsos, principalmente durante a última ditadura militar (1964-1985).

A decisão final não será pronunciada até que os últimos três juízes votem. Mas um voto maioritário a favor dos povos indígenas impede efectivamente uma decisão divergente.

– ‘Dívidas impossíveis’ –

A juíza Louise Fox, que teve o sexto voto decisivo, disse: “Mesmo que ainda não tenham sido aprovados (como reservas), estes territórios ocupados devem estar sob proteção do Estado, porque é isso que a constituição estipula”.

Posteriormente, a juíza Carmen Lucía destacou “a impossibilidade de saldar a dívida da sociedade brasileira com os povos indígenas”.

Gwenya Wapichana, presidente da Funai, organização pública de proteção aos povos indígenas, saudou o fato de que “a justiça está do lado dos povos indígenas.

“Agora que o prazo foi finalmente encerrado, poderemos avançar na proteção de nossas terras e direitos”, disse ela à AFP.

Os únicos dois juízes a favor da tese defendida pelo agronegócio foram nomeados pelo ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (2019-2022).

Este último prometeu, após a sua eleição, não “dar um centímetro a mais” aos povos indígenas.

A aprovação de novas reservas permaneceu estagnada durante mais de cinco anos, até ao regresso ao poder do presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que aprovou seis novas reservas em Abril, e depois mais duas no início de Setembro.

O Brasil tem mais de 700 reservas já demarcadas, mas cerca de um terço delas não foram oficialmente aprovadas.

O julgamento no Supremo, que deveria abrir precedente, diz respeito mais especificamente ao caso da região Ibirama-Laclano, no estado de Santa Catarina (sul), que perdeu a condição de reserva indígena do povo Shoklinge em 2009 , após decisão de um tribunal de primeira instância.

Os ministros então justificaram sua decisão explicando que essas terras não foram ocupadas por indígenas em 1988.

– compensação –

Os juízes do Supremo Tribunal também terão de chegar a consenso sobre questões pendentes, em particular a questão da possível compensação por parte do Estado aos proprietários de terras que serão convertidas em reservas no futuro.

Essa solução alternativa ao “marco temporal” é proposta pelo poderoso juiz Alexandre de Moraes, mas rejeitada pelos indígenas.

“Não somos contra a indenização aos pequenos produtores agrícolas, mas isso deve ser determinado fora deste julgamento, (…) caso contrário, muitos conflitos poderão eclodir”, avalia Creta Kaingang, representante da Associação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). ).

Em particular, esta organização teme que a jurisprudência do Supremo Tribunal sobre a questão da compensação atrase a aprovação de novas reservas, porque representará um custo elevado para o Estado, que já enfrenta restrições orçamentais significativas.

O Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas, vivendo dentro ou fora das reservas, ou 0,83% da população, segundo dados do último censo.



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Opal Turner

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