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Brasil: Telegram bloqueado, golpe para Bolsonaro

BRASÍLIA | Um juiz do Supremo Tribunal Federal bloqueou na sexta-feira o popular serviço de mensagens online Telegram, amplamente utilizado pelo presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, que denunciou uma decisão que coloca em risco a “liberdade” dos brasileiros.

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Em um país atormentado pela desinformação, essa medida veio sete meses antes da eleição presidencial.

Em várias ocasiões, o Telegram “não cumpriu ordens judiciais”, escreveu o juiz Alexandre de Moraes em seu acórdão publicado no site oficial do STF, que ordena “a suspensão completa e integral da operação do Telegram no Brasil”, baixado em 53% dos telefones celulares.

A decisão “é inadmissível”, reagiu o presidente Bolsonaro.

O juiz “não agiu contra as duas ou três pessoas que ele acha que deveriam ser bloqueadas, então ele decide afetar 70 milhões de pessoas (…). O que está em jogo é a nossa liberdade”, disse o presidente.

Essa mensagem online criptografada foi a pedra angular da estratégia de campanha de Bolsonaro, que visa a reeleição presidencial em outubro e defende a liberdade de expressão ilimitada.

Mais cedo, o ministro da Justiça e Segurança, Anderson Torres, disse no Twitter que milhões de brasileiros foram “injuriados por uma decisão individual” e acrescentou que seu ministério estuda “uma solução para restabelecer o direito do povo de usar a rede social”, sem especificar qual medida ele pretende adotar.

atraso de 24 horas

Pavel Durov – o fundador russo do Telegram com sede em Dubai – pediu desculpas à Suprema Corte do Brasil na sexta-feira e alegou que era um “problema de comunicação”.

“Parece que tivemos um problema com e-mails entre nossos endereços corporativos do telegram.org e a Suprema Corte do Brasil. Como resultado desse problema de comunicação, o tribunal ordenou o bloqueio do Telegram porque não respondemos”, escreveu Durov em sua plataforma, pedindo um novo atraso para atender às demandas da justiça brasileira.

Diferente de outras plataformas, no Telegram praticamente não há moderação de conteúdo de mensagens e grupos podem reunir até 200 mil membros, o que aumenta muito o potencial viral de informações falsas.

Isso rendeu sanções ao Telegram em alguns países, desde a suspensão – temporária ou permanente – de seus serviços até o bloqueio direcionado de determinadas contas ou grupos de usuários.

“Nossa conta do Telegram dá informações diárias sobre ações de interesse nacional (do governo), que infelizmente são omitidas por muitos”, escreveu o chefe de Estado na sexta-feira no Twitter, antes da publicação do julgamento de Moraes.

O juiz do STF cita a recusa do Telegram em bloquear a conta de Allan dos Santos, um blogueiro bolsonarista sob investigação por desinformação, a pedido da justiça brasileira. O magistrado também mencionou a falta de cooperação da plataforma em casos de pornografia infantil.

Ele deu 24 horas à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para fazer cumprir sua decisão e bloquear o acesso à plataforma em todo o território, até que o Telegram “aplica as ordens judiciais” impostas a ela.

“território sem lei”

“Como não aplica decisões judiciais, o Telegram é uma espécie de território sem lei. As regras da justiça eleitoral, como a proibição de envio de mensagens em massa em grupos ou campanha antecipada, não se aplicam lá”, explicou sexta-feira Pablo Ortellado, professor da Universidade de São Paulo e especialista em plataformas digitais.

No dia 15 de fevereiro, o Telegram esteve visivelmente ausente de um acordo firmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com oito plataformas digitais (Twitter, TikTok, Facebook, WhatsApp, Google, Instagram, YouTube e Kwai) que se comprometia a combater a desinformação em a eleição presidencial.

O presidente do TSE, Luis Roberto Barroso, afirmou em dezembro que “muitas teorias da conspiração e informações falsas” estavam sendo divulgadas “sem qualquer controle” no Telegram.

Na época, ele já havia ameaçado a aplicação de uma “suspensão definitiva no Brasil”.

“Após as investigações e as prisões ilegais, bem como a censura das redes sociais, o Brasil é oficialmente uma ditadura judicial!”, reagiu o deputado bolsonarista Carlos Jordy no Twitter, em alusão à prisão de youtubers no âmbito de um Supremo Tribunal Federal inquérito sobre desinformação.

A eleição do presidente de extrema direita em 2018 foi marcada pela disseminação massiva de informações falsas, principalmente no WhatsApp, principal concorrente do Telegram.

A conta de Jair Bolsonaro no Telegram tem mais de um milhão de assinantes, ante 48 mil de seu principal provável adversário nas eleições de outubro, o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que está à frente dele nas pesquisas.

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