consciência e o ato de ler – Contra

Por Francisco Alberto

“A principal falha, até agora, do materialismo de todos os filósofos – incluindo o de Feuerbach – é que o objeto, a realidade, o mundo sensível só são apreendidos na forma de objeto ou intuição., Mas não como uma atividade humana concreta, como prática, de forma não subjetiva … ”
(K. Marx, Teses sobre Feuerbach)

O centenário de Paulo Freire (19 de setembro de 1921 – 2 de maio de 1997), domingo, 19 de setembro, nos convida a salvar o legado de sua posição de educador e sua importância para todos os trabalhadores da educação e pesquisadores do tema. Uma categoria importante de seu pensamento é a consciência e expressão prática em o ato de ler.

A proposição libertadora de Paulo Freire baseia-se em despertar a consciência dos sujeitos, levando-os a se compreenderem como seres ativos, críticos e reflexivos, o que pressupõe uma relação dialógica. [en forme de dialogue] educador e aluno. Essa relação dialógica envolve reconhecer a relação entre objetividade e subjetividade, sem tratá-las separadamente. De acordo com Freire (Freire P. Considerações sobre o ato de ler. Postado em Ação cultural pela liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981. p. 51):

“A objetividade dicotomizada da subjetividade, a negação desta na análise da realidade ou na ação sobre ela, é objetivismo. Da mesma forma, a negação da objetividade, tanto na análise como na ação, conduzindo a um subjetivismo que resulta em posições solipsistas, nega a própria ação, ao negar a realidade objetiva, uma vez que esta se torna uma criação da consciência. Nem objetivismo, nem subjetivismo, nem psicologismo, mas subjetividade e objetividade em uma relação dialética permanente. »

A pedagogia freiriana, como pedagogia libertadora, visa superar a contradição entre opressores e oprimidos. A prática pedagógica libertadora levaria a um processo de conscientização desprivilegiada e emancipatória para os oprimidos, emancipando assim toda a humanidade. Superando o “medo da liberdade” de que fala o autor (Freire, p. 31), e superando a imersão do oprimido na cosmovisão do opressor (p. 44), a emancipação do oprimido viria de sua concepção como um sujeito ativo, crítico e pensativo. Uma educação libertadora seria radicalmente oposta à educação “bancária” [le terme bancária est utilisé par Freire pour définir une relation entre professeur et élève dans laquelle le professeur voit l’étudiant comme une banque dans laquelle il dépose la connaissance] e também desprovido de paternalismo. A emancipação e a conscientização estão presentes na relação educador-educando.

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Paulo Freire e o ato de ler

Paulo Freire, em seu texto “Considerações sobre o ato de ler”, aborda o tema da leitura de forma particular, problematizando elementos como o modo de ler e a relação com o objeto de pesquisa. É importante notar que Freire discute o ato de ler considerando o leitor como sujeito do processo de conhecimento do texto a ser lido. Mas o que queremos dizer com “leitor como sujeito”? Destacarei aqui alguns pontos-chave da leitura, segundo o autor, que se relacionam entre si.

  • Freire entende o leitor como sujeito no processo de apreensão do texto lido. Ser sujeito não pressupõe necessariamente a quantidade de livros e páginas que se lê, mas a forma e o caminho a percorrer na leitura. É por isso que Freire afirma que “não adianta virar a página de um livro se sua compreensão não foi alcançada” (Freire, 1981, p. 4). O leitor não só se afirma como tal, mas também possui outra característica: a humildade. O ato de reconhecer seus limites e ao mesmo tempo a busca por um conhecimento seguro, a partir do contato com o texto lido.
  • O ato de ler, segundo Paulo Freire, expressa a diferença que o autor estabelece entre compreender o conteúdo e memorizar (Freire, 1981). Nesse texto, como em toda a obra de Freire, encontramos a conhecida crítica à educação “bancária”. A educação bancária vê o aluno como um repositório de conteúdos adquiridos por meio da memorização, o que é típico do modelo de educação do ponto de vista do capital, conceito que se opõe radicalmente a uma educação libertadora que toma o aluno / leitor como sujeito de o processo de aprendizagem.
  • O ato de ler exige reconhecer a relação sujeito-objeto presente em todos os atos de conhecimento da história e também que essa relação é dialética; uma relação de transformação permanente de quem lê e de apropriação crítica do texto a ser lido. Conseqüentemente, o ato de ler não pode ser comparado a uma exegese do próprio texto. Ao contrário, implica na leitura atual partir do contato com o autor que é lido, e por parte do pesquisador. Ou seja, não se trata de fazer ciência reproduzindo as cartas [mot pour mot] o que muitos autores já avançaram. A leitura de autores clássicos ou contemporâneos em qualquer pesquisa, educacional ou não, é um guia teórico-metodológico que fornece elementos que serão fundamentais em um projeto de pesquisa ou análise crítica do que se lê. Essa é uma condição fundamental para a produção de conhecimento.
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Conclusão

São inúmeros os obstáculos para uma educação como práxis libertadora, na perspectiva de Freire, em um modelo de sociedade regido pelo capital. Ainda mais em um país da periferia capitalista e em uma formação sócio-histórica fundada na glorificação de relações opressoras racistas, escravistas, patriarcais e burguesas, como é o caso do Brasil. Isso não nos impede de salvar seu legado. Não salvemos Freire como mais uma “teoria” desligada de sua prática (Freire defende exatamente o contrário), ou como um “modelo” impossível que só lembramos de forma protocolar, mas que sua herança perdure como síntese entre as teorias educacionais. e pratique.

A educação como práxis libertadora pressupõe que o próprio educador também seja educado, como afirma Marx no Teses sobre Feuerbach, e mais tarde o próprio Freire em sua concepção de educação. E que todos os educadores, inclusive o autor deste breve texto, também sejam educados de forma constante e coletiva, em permanente ação dialógica. (Artigo publicado no site daDeixou Conectados 19 de setembro de 2021; tradução editorial Contra)

Francisco Alberto, Professor Mestre em Educação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

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