As enchentes que atingem o sul do Brasil são o “pior desastre climático” da história do país, segundo o governador do estado do Rio Grande do Sul. Pelo menos oitenta e cinco pessoas morreram, outras cem desapareceram e a catástrofe já deixou mais de 150 mil refugiados. Mais de 350 localidades foram afetadas, com a água subindo mais de 5 metros de altura em alguns pontos.
Apesar das imagens inequívocas da região do desastre e das casas cobertas até o telhado, alguns internautas desenvolveram teorias da conspiração, convencido de que isto não está relacionado com as alterações climáticas ou um fenômeno meteorológico excepcional. “O que está acontecendo no Rio Grande do Sul não é absolutamente natural. Vamos abrir os olhos!”, grita uma mulher na rede X.
O desastre foi provocou, segundo ele, artificialmente por um programa de pesquisa americano dedicado ao estudo da camada superior da atmosfera, utilizando antenas instaladas no Alasca, Estados Unidos.
Chamado “HAARP”, este programa é regularmente alvo de teorias infundadas e regularmente negadas nas redes sociais. Esta tese é “absolutamente desprovida de significado físico”sublinha Carlos Nobre, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT).
Outros usuários mostram aviões sobrevoando a região, garantindo que as listras brancas deixadas pelos aparelhos sejam a causa das chuvas intensas. Bem conhecidas nos Estados Unidos pelo termo “chemtrails”, muitos teóricos da conspiração argumentam que as trilhas são compostas de produtos químicos liberados deliberadamente para modificar o clima e causar desastres naturais.
Todos os meteorologistas e climatologistas são categóricos: é a condensação do vapor d’água causada pela passagem de um avião que produz estrias brancas, que podem se estender e persistir dependendo das condições atmosféricas.
Se uma pesquisa do instituto Quaest, publicada na quinta-feira, 8 de maio, mostrasse que 99% da população brasileira considerou as mudanças climáticas, pelo menos em parte, responsável inundações, as teorias da conspiração se espalharam rapidamente na web, cruzando as fronteiras do país e espalhando informações falsas sobre o desastre.
Para Raquel Recuero, coordenadora do laboratório de pesquisa de mídia da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, o conteúdo conspiratório que viralizou nos últimos dias no Brasil é importados e traduzidos por grupos organizados, “provavelmente em busca de audiência, monetização e influência”. Segundo ela, o principal desafio é disseminar a “educação midiática” entre a população para que ela consiga separar o fato da ficção.
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