Esta semana, o primeiro episódio da nossa série é dedicado a Caetano Veloso, o inventor da natureza tropical, o maravilhoso divino que soube reescrever e reconsiderar a música do seu Brasil natal. Sua voz é instantaneamente reconhecível e ela mal envelheceu. Catiano Veloso é um excelente compositor e arranjador, que nunca se move sozinho. Estimulado na adolescência pela descoberta fundadora de João Gilberto e da Bossa Nova, cercou-se desde cedo da irmã, claro, mas também do “irmão” musical Gilberto Gil, e da amiga Gal Costa.
Caetano Veloso, que tendemos a esquecer, porque nem sempre entendemos o sentido de suas canções, é para além de um genial compositor, e um tremendo poeta. Ele é um poeta da simplicidade e um poeta intelectual. Ele lê Stendhal, Lorca e Joyce e adora os filmes de Godard e Eisenstein tanto quanto ama a música de Bach, Bob Dylan e John Lennon, ou as pinturas de Mondrian ou Velásquez. Ao longo da sua vida, a sua música fala e reflecte a sua curiosidade insaciável pelos movimentos de vanguarda, tal como o faz pela música cultural que fala às massas e que lutará ao longo da sua vida contra “aquela distinção nítida entre músicos clássicos e populares que os priva de direitos. ” (É dever) prestar atenção a questões culturais sérias.”
Ao longo da sua vida, Caetano Veloso nunca deixou de se reinvestir, de se reinventar, de colecionar sem negar as fontes que nunca deixaram de o alimentar. Obviamente, essas fontes são a música tradicional brasileira, o samba, gênero carioca por excelência, os ritmos baianos e, mais tarde, o rock e o funk. Também faz discos mais experimentais, quando canta com figuras de origem como Gilberto Gil, seu melhor amigo, e María Bethania, sua irmã mais nova, cujo primeiro nome ele mesmo escolheu, em referência à valsa que embalou a infância do compositor Cabeba. . . Essa irmãzinha cresceu com ele e aqueles que rapidamente chamamos de Gentis Bárbaros, tornando-se um dos maiores músicos da música brasileira. Enquanto a voz de Caetano brinca com códigos de masculinidade porque é alta e etérea, María Bethanía tem um alcance ressonante, e o irmão e a irmã deleitam-se com o contraste surpreendente que surge de suas vozes.
Caetano Veloso aborda o conceito de “antropofagia”, caro ao poeta e agitador carioca Oswald de Andrade, que ele cunhou na década de 1920, e que Veloso e Gil fariam questão de revitalizar através dos trópicos. Sua filosofia é simples e fiel à longa tradição cristã que sustenta a identidade brasileira: uma verdadeira MPB deve abraçar a enorme diversidade das culturas regionais do país, ao mesmo tempo que “devora” os movimentos artísticos estrangeiros, absorvendo seu poder, em vez de promover o que Caetano define como uma “movimento artístico estrangeiro”. Um amálgama bastante homogêneo e aceitável do que seria a identidade brasileira.
É claro que a ideia que ele afirma, junto com Gilberto Gil, é a superexposição, a combinação dos elementos mais díspares, do kitsch à música refinada, da música antiga brasileira à música industrial, da música regional, ou seja, a mais fundamentalmente música regional no Brasil.
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