O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou nesta segunda-feira que garantiu a liberdade de um “inocente” perdoando um membro condenado à prisão pelo Supremo Tribunal por comentários antidemocráticos. “O decreto de clemência é constitucional e será cumprido. Anteriormente, os infratores eram liberados e ninguém reclamou. Eu liberto pessoas inocentes”, disse o chefe de Estado durante visita a uma feira agropecuária em São Paulo (sudeste). Daniel Silveira, deputado do núcleo duro do bolsonarismo, foi condenado a 8 anos e 9 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal, que também ordenou o cancelamento de seu mandato e o declarou inelegível por oito anos.
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No dia seguinte, Jair Bolsonaro concedeu-lhe o indulto presidencial, em nome do “liberdade de expressão”. Esta decisão causou comoção, com a oposição gritando “desagregação institucional”. Vários partidos entraram com recursos no Supremo Tribunal Federal para derrubar o decreto de indulto, que consideram inconstitucional. A mais alta corte do país, a Suprema Corte ainda não se pronunciou sobre este perdão presidencial. Daniel Silveira, 39, causou escândalo em fevereiro de 2021, com a publicação em suas redes sociais de um vídeo em que insulta copiosamente os juízes do STF, que “são inúteis” e merecem ser “espancado na rua”.
Este ex-policial foi preso no processo, depois colocado em prisão domiciliar antes de receber liberdade condicional em novembro, aguardando seu julgamento. Mas voltou às manchetes no mês passado, se entrincheirando em seu gabinete no Parlamento para tentar evitar – em vão – a instalação de uma pulseira eletrônica. Em São Paulo, o presidente Bolsonaro também atacou o STF em outro assunto: o julgamento sobre a validade do “prazo” para a demarcação de reservas indígenas.
O chefe de Estado e seus aliados no lobby do agronegócio no Parlamento defendem a tese de que os povos indígenas só podem receber terras que ocupavam no ano da promulgação da Constituição, em 1988. O julgamento foi adiado em setembro passado e deve retomar em junho. O relator Edson Fachin, primeiro juiz a decidir, havia votado contra a “prazo”acreditando que isso impediria os nativos “exercer plenamente o seu direito” ocupar suas terras ancestrais. “Se Fachin sair vitorioso, só me resta duas coisas a fazer: ou entrego as chaves (do poder, nota do editor) à Suprema Corte, ou ignoro o julgamento”lançou, desafiadoramente, Jair Bolsonaro na segunda-feira.