O Irã retomou o enriquecimento de 20% de urânio em uma instalação nuclear subterrânea, anunciou Teerã nesta segunda-feira (4), novamente quebrando o acordo nuclear de 2015 com grandes potências mundiais.
A medida é a última violação iraniana do acordo e pode complicar os esforços do presidente eleito dos EUA, Joe Biden, para retomar o pacto quebrado pelo atual presidente dos EUA, Donald Trump.
O acordo nuclear com o Irã foi assinado em julho de 2015, após quase 20 meses de negociações, entre o governo da República Islâmica e um grupo de potências internacionais, liderado pelos Estados Unidos.
O chamado grupo P5 + 1 (os cinco membros do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha) concordou em encerrar as sanções ligadas ao programa nuclear iraniano em troca de seu desmantelamento.
Mas os Estados Unidos abandonaram o acordo em 2018 e voltaram a impor sanções a Teerã, contra a vontade das outras potências que assinaram o pacto. Em resposta, o governo iraniano começou a violar as disposições do documento em 2019.
O principal objetivo do acordo era estender o tempo que o Irã precisaria para produzir material físsil suficiente para uma bomba nuclear.
“Há poucos minutos, o processo de produção de urânio enriquecido a 20% começou no complexo de enriquecimento de Fordow”, anunciou o porta-voz do governo iraniano Ali Rabeie à mídia estatal.
“O processo de injeção de gás nas centrífugas começou há poucas horas e o primeiro produto de hexafluoreto de urânio gasoso (UF6) estará disponível em algumas horas”, disse o porta-voz.
A medida é uma das muitas contidas em uma lei aprovada pelo parlamento do país em dezembro, em resposta à morte do principal cientista nuclear do país. Teerã atribuiu o assassinato a Israel.
Primeiro Ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse na segunda-feira que o país “não permitirá que o Irã produza armas nucleares”.
O Irã havia alertado a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) que planejava retomar o enriquecimento. Para produzir armas nucleares, o urânio enriquecido deve chegar a 90%.
A lei visa aumentar o enriquecimento para pressionar a Europa a aliviar as sanções ao país e também ao presidente eleito dos Estados Unidos.
Também nesta segunda-feira (4), a Guarda Revolucionária do Irã capturou um petroleiro com bandeira da Coreia do Sul no Estreito de Ormuz, entre os Golfos Pérsico e Omã.
Segundo a imprensa iraniana, o navio foi transferido para portos do país “devido à contaminação do petróleo e riscos ao meio ambiente”.
Nos últimos meses, o Irã aumentou a pressão sobre o país para desbloquear cerca de US $ 7 bilhões em ativos com as vendas de petróleo.
O montante foi obtido antes de o governo Trump restringir as sanções às exportações de petróleo do país, mas mesmo assim foi bloqueado pela Coreia do Sul.