O ex-presidente brasileiro passou duas noites na embaixada da Hungria em Brasília, em fevereiro passado, poucos dias depois de uma operação policial durante a qual foi proibido de sair do território, revelou o New York Times.
Rodeado de investigações judiciais, o ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro passou duas noites em fevereiro na embaixada da Hungria em Brasília, mas a sua defesa garante que ali não procurava refúgio. Para todos os dias New York Timesque revelou esta intrigante estadia na segunda-feira, apoiando imagens de videovigilância, o antigo líder da extrema-direita “escondido” para escapar da justiça. “Notícias falsas”, retrucaram seus advogados. Eles admitiram em um comunicado à imprensa que seu cliente havia sido “fiquei dois dias” na embaixada deste “país amigo”liderado por Viktor Orban, outro representante da direita radical.
Mas segundo eles, ele tinha ido para lá “por convite” autoridades húngaras, com o único objectivo de “discutir o contexto político dos dois países”. “Qualquer outra interpretação (…) é da ordem da ficção”, eles insistiram. As imagens de videovigilância publicadas pelo New York Times mostram o ex-presidente entrando na embaixada húngara na noite de 12 de fevereiro e saindo no dia 14 à tarde. Poucos dias depois de uma operação policial durante a qual foi proibido de sair do território.
O embaixador húngaro ouvido pela diplomacia brasileira
No dia 8 de fevereiro, esta operação de escala sem precedentes teve o efeito de um terremoto. Os investigadores detalharam suas suspeitas de um “tentativa de golpe” fomentada por Jair Bolsonaro e pessoas próximas a ele para evitar sua derrota eleitoral em 2022 contra seu rival de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. Convocado na noite de segunda-feira pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil para “dar explicações sobre a acomodação do ex-presidente Jair Bolsonaro”o embaixador húngaro passou vinte minutos na sede da diplomacia brasileira, segundo fonte do governo em Brasília.
O juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, responsável por outro processo contra Jair Bolsonaro, por sua vez deu uma “Prazo de 48 horas” ao ex-presidente para se explicar, disseram à AFP várias fontes judiciais. A esquerda foi rápida em abordar esse assunto. O antigo líder da extrema-direita pretendia “fugir (…) por medo de ser julgado pelos seus crimes, de ser condenado e de ser preso”acusou Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula, na rede social
Um deputado deste partido, Lindbergh Farias, anunciou que entrou em contato com a Procuradoria-Geral da República para exigir a “prisão preventiva” por Jair Bolsonaro. “Esta estadia na embaixada sugere que o ex-presidente estava tentando aproveitar sua amizade com um colega líder de extrema direita para escapar do sistema judicial brasileiro”, declarou este parlamentar. Em seu comunicado à imprensa, os advogados de Jair Bolsonaro lembraram que ele “É do conhecimento geral que o ex-presidente tem um bom relacionamento com o primeiro-ministro húngaro”.
Envolvido em vários escândalos
No dia 8 de fevereiro, Viktor Orbán chamou Jair Bolsonaro de “patriota honesto” nas redes sociais, incentivando-o a “continuar a lutar”. Durante um evento do seu Partido Liberal, o ex-chefe de Estado garantiu segunda-feira que “frequentados embaixadas no Brasil” Para “bate-papo com embaixadores”. “Tenho boas relações internacionais e ainda hoje mantenho relações com chefes de Estado (…). Muitas vezes me ligam para pedir informações sobre o que está acontecendo em nosso país.ele explicou.
Declarado inelegível em junho passado por ter divulgado informações falsas sobre o sistema brasileiro de urnas eletrônicas, Jair Bolsonaro, 69 anos, viu o laço judicial apertar-se desde a derrota para Lula. Na semana passada, a Polícia Federal recomendou seu indiciamento em caso de falsificação de certificados de vacinação contra a Covid-19. Ele também está na mira da justiça pela suposta apropriação indébita de presentes recebidos de países estrangeiros, incluindo joias oferecidas pela Arábia Saudita.
Apesar destes escândalos, o ex-capitão do exército continua muito popular no seu campo. No dia 25 de fevereiro, logo após sua estadia na embaixada húngara, ele fez uma demonstração de força com uma grande manifestação em seu apoio em São Paulo que reuniu cerca de 185 mil pessoas, segundo estimativa de pesquisadores.