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Mais frequentes, mais violentos: o Brasil enfrenta o desafio dos eventos climáticos extremos

Inundações históricas, incêndios florestais recordes, ondas de calor sem precedentes, secas: eventos climáticos extremos estão ocorrendo um após o outro no Brasil e, alertam especialistas, se tornarão ainda mais frequentes e intensos no futuro.

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Com cerca de uma centena de mortos e infraestrutura gravemente danificada, as chuvas torrenciais que caíram na semana passada no Rio Grande do Sul já são o pior desastre natural da história deste importante estado agrícola do sul do Brasil.

Mas esta catástrofe é apenas a mais recente entre as que atingiram recentemente este país de dimensões continentais.

AFP

No ano passado, o Brasil foi palco de 1.161 desastres naturais de diversos tipos e tamanhos, um recorde desde que os registros começaram em 2011, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).

A sua geografia explica em parte esta vulnerabilidade, com regiões expostas a inundações no sul e outras mais secas, como a zona semiárida no leste. Outro fator significativo: o fenômeno meteorológico natural El Niño.

Mas desastres como o do Rio Grande do Sul constituem uma “lembrança dos efeitos devastadores da crise climática”, sublinhou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

AFP

“Adaptação” urgente

Devido ao aquecimento global, os eventos extremos “são cada vez mais frequentes e extremos, e podemos esperar que isso continue”, confirma José Marengo, chefe de investigação do Cemaden, à AFP.

As alterações climáticas “não são mais tema de discussão científica: saíram dos livros para se tornarem realidade”, insiste Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, que reúne ONG e investigadores.

As chuvas extremas no Brasil no ano passado deixaram pelo menos 132 mortos e mais de 9.000 feridos, enquanto cerca de 74.000 residentes perderam suas casas, segundo o Cemaden. Os danos materiais estão estimados em mais de cinco mil milhões de reais (mais de 900 milhões de euros).

A precipitação extrema no sul da América do Sul, como a do sul do Brasil, é há muito prevista por modelos científicos, aponta o Observatório do Clima. Mas este alerta foi “ignorado por sucessivos responsáveis ​​locais”, acusa Suely Araujo, coordenadora de políticas públicas da plataforma.

“Enquanto não compreendermos a necessidade de adaptação (às alterações climáticas), estas tragédias continuarão a ocorrer, cada vez mais grave e frequentemente”, alerta.

Prevenção

E também há incêndios. O Brasil registou um número recorde de incêndios florestais de janeiro a abril, com mais de 17 mil focos identificados, mais de metade dos quais na Amazónia, segundo um organismo oficial. O governo destacou o impacto do aquecimento global e os episódios de seca que ele provoca.

A Amazónia, a maior floresta tropical do planeta que desempenha um papel vital contra as alterações climáticas ao absorver as emissões de carbono, sofreu uma seca histórica no ano passado.

No front amazônico, porém, há boas notícias. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu reduzir pela metade o desmatamento ali durante seu primeiro ano de mandato, em 2023. Ele havia saltado sob o comando de seu antecessor de extrema direita, Jair Bolsonaro, um aliado de uma agroindústria ainda em busca de terras.

Segundo José Marengo, para evitar novas tragédias como a do Rio Grande do Sul, é preciso primeiro levar a sério os alertas.

“Como não temos o poder de parar a chuva, devemos preparar-nos antecipando os desastres associados: que as populações não construam em áreas de risco e que os governos trabalhem o tempo todo, porque diante dos desastres é preciso estar sempre prontos, não apenas quando acontecerem”, ele insiste.

Por sua vez, Marcio Astrini defende o estabelecimento de um plano de resposta antecipada para as áreas mais vulneráveis ​​do Brasil. Mas “estamos muito longe disso”, admite.

Os dois especialistas sublinham a insuficiência orçamental para políticas de prevenção, a aprovação de leis que favoreçam a ocupação de áreas perigosas, ou mesmo a desflorestação.

Contudo, resume o diretor do Observatório do Clima, as alterações climáticas trazem “danos tanto sociais como económicos: pessoas que morrem e outras que perdem tudo”.

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