Foi a estrela indiscutível das edições anteriores, durante as quais os seus discursos foram aplaudidos por milhares de espectadores. Mas este ano, Luiz Inácio Lula da Silva não recebeu convite para ir ao acampamento Terra Livre, maior encontro de indígenas do Brasil, que aconteceu de 22 a 26 de abril em Brasília. Um sinal da decepção e do descontentamento dos indígenas causados pelas políticas do presidente de esquerda.
Superficialmente, porém, o clima era festivo na capital. Seis mil indígenas de 200 etnias participaram do evento, segundo a Coordenação dos Povos Indígenas do Brasil, organizadora do acampamento que completou 20 anos este ano. Vários rituais tradicionais e marchas pacíficas foram organizadas pelos manifestantes, acampados no Eixo Monumental, principal artéria da capital. Slogans foram projetados nas cúpulas do Congresso. “Nunca mais um Brasil sem nós”proclamou um deles.
Mas por trás das canções e danças dos participantes havia amargura, senão raiva. Na véspera do evento, a coordenação do campo enviou ao poder uma severa carta de exigência com vinte e cinco pontos de exigência. “Apesar da recente mudança de governo, persistem ameaças aos nossos territórios, às nossas culturas e aos nossos direitos”lamenta o texto, que evoca uma “momento crucial” para os 1,7 milhões de indígenas do país.
No centro das críticas está, em primeiro lugar, a demarcação de novas terras indígenas. Desde o início do mandato, em janeiro de 2023, Lula aprovou apenas dez, muito longe de suas promessas de campanha. Vinte e três territórios indígenas, já atendendo a todos os critérios legais e administrativos, aguardam ratificação do executivo.
“2023 foi um ano de reconstrução e retomada do diálogo após o mandato desastroso de Jair Bolsonaro”, admite Kleber Karipuna, coordenador executivo da Associação dos Povos Indígenas. O antigo chefe de Estado, que deixou o poder em janeiro de 2023, vangloriou-se de não ter aprovado “nem um centímetro quadrado” de terras indígenas durante seu mandato. “Mas hoje, nossas demandas não estão progredindo. Então dizemos ao Lula que precisamos de uma ação urgente! »insiste Kleber Karipuna.
Institucionalmente, o novo Ministério dos Povos Indígenas, liderado pela ativista Sonia Guajajara, foi destruído em 2023 pelo Congresso e perdeu o poder de demarcar novos territórios indígenas para o Ministério da Justiça. Financeiramente, a situação não é muito boa. Apesar do aumento, o orçamento conjunto do Ministério dos Povos Indígenas e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, responsável pela “proteger e promover direitos” dos povos indígenas, não ultrapassa 1,3 bilhão de reais (240 milhões de euros) para 2024, ou o equivalente a 0,01% do orçamento federal.
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