Neste dia 22 de novembro ao anoitecer, a Cinemateca Brasileira está lotada. Várias dezenas de impacientes fazem fila nos corredores de tijolos desta prestigiada instituição paulista, instalada num antigo matadouro do século XIX.e século. À primeira vista, o filme do dia – um documentário mudo, a preto e branco, datado de 1918 – não pretendia atrair multidões.
Mas, na tela, as imagens, filmadas na Amazônia, são excepcionais. Aqui, no meio da floresta, acompanhamos o trabalho cansativo dos catadores de castanhas e seringueiros. Lá é uma perigosa pescaria de peixe-boi, feita com lança. Mais adiante, rostos intrigantes esculpidos na rocha por misteriosos nativos. Onças, macacos, crocodilos são filmados em close-up ou em cativantes planos de rastreamento em uma canoa…
Considerado um dos filmes mais antigos rodados na Amazônia, esse longa de 66 minutos ficou esquecido há muito tempo. Amazonas, onde fica o rio do mundo (“Amazônia, o maior rio do mundo”), dirigido por Silvino Santos, foi considerado durante décadas uma joia perdida, engolida pelas ondas tumultuadas do 7.e arte… até ressurgir este ano, quase por milagre.
Tudo isso valeu muito a pena ser exibido, com acompanhamento sonoro do compositor Luiz Henrique Xavier. Ele cumpriu sua tarefa em ” Um fim de semana “, inspirado em canções indígenas, sons da floresta e obras de Heitor Villa-Lobos. Tivemos que agir rapidamente porque “esta é uma descoberta extraordinária”resumiu Eduardo Morettin, renomado professor de história do cinema da Universidade de São Paulo, durante discussão após o filme.
Em 1918. O cinema ainda estava engatinhando quando o jovem Silvino Santos realizou um grande documentário sobre a Amazônia. Na altura, este jovem fotógrafo português radicado em Manaus tinha 32 anos e pouca experiência. Para seu crédito, ele filmou um filme de propaganda no Peru em nome dos magnatas da borracha, acusados de tratar seus empregados como escravos…
As filmagens na Amazônia durarão três longos anos. O jovem cineasta se esforça para filmar cada canto da floresta e “utiliza as mais modernas técnicas de storytelling, com edição dinâmica, zoom, movimento… Alterna pontos de vista líricos, cômicos, contemplativos. É de imenso valor artístico”sublinha Savio Luis Stoco, professor da Universidade Federal do Pará, especialista na obra de Silvino Santos.
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