No Brasil, um mês de vacinação lenta contra o coronavírus

No Brasil, até então um país modelo para a vacinação em massa, pouco mais de 2% dos 212 milhões de habitantes receberam uma injeção contra o coronavírus, após o primeiro mês de uma lenta campanha nacional.

Na ausência de diretrizes claras do governo de Jair Bolsonaro, estados e municípios se viram abandonados à própria sorte, com muitos soluços, fraudes e até suspensão das vacinas como no Rio de Janeiro ou em Salvador, por falta de doses.

Cerca de 5,2 milhões de pessoas receberam uma dose da vacina – e menos de 250.000 a segunda – no segundo país mais enlutado do mundo, com quase 240.000 mortos.

A vacinação começou várias semanas depois nos Estados Unidos ou na maioria dos países europeus, também muito afetados.

No entanto, isso não impediu o país latino-americano de vacinar o dobro da França, que começou três semanas antes.

Mas muitos especialistas acreditam que o Brasil, com a força de sua experiência, poderá vacinar muito mais rápido.

“Em 2010, mais de 80 milhões de pessoas foram vacinadas contra o H1N1 em menos de três meses”, disse a AFP Ethel Maciel, epidemiologista da Universidade Estadual do Espírito Santo (Ufes).

Ela aponta o dedo em particular para o ministro da Saúde Eduardo Pazuello, general do Exército sem experiência na área.

“Temos muitos profissionais de imunização excelentes no Brasil, mas quem está acima deles na hierarquia são soldados, em sua maioria inexperientes”, lamenta.

Gestão “Criminal”

Devido à falta de antecipação do governo e às tensões diplomáticas em torno de declarações precárias do presidente de extrema direita – especialmente no que diz respeito à China – o Brasil teve todas as penalidades do mundo para importar suas primeiras doses e os insumos necessários para fabricar mais.

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Até o momento, a agência de saúde Anvisa autorizou apenas duas vacinas, a chinesa CoronaVac e a do grupo anglo-sueco AstraZeneca.

Apenas 12 milhões de doses estavam disponíveis para o início da campanha de imunização. O governo prevê a entrega de 210,4 milhões de doses da vacina AstraZeneca até o final do ano e 100 milhões da CoronaVac até o final de agosto.

“Foi um erro do governo colocar todos os ovos na mesma cesta”, lamenta Ethel Maciel, que considera “criminosa” a constante minimização da crise sanitária pelo presidente Bolsonaro.

“Ele liderou uma campanha antivacinas, dizendo que não seria vacinado ou que as vacinas poderiam transformar as pessoas em crocodilos. Ele semeou dúvidas na população ”, acrescenta o epidemiologista por trás de um pedido de demissão do presidente.

Variante perturbadora

“A falta de doses impede que façamos uma vacinação em massa como sabemos fazer”, explica Natalia Pasternak, microbiologista da Universidade de São Paulo (USP).

E o tempo está se esgotando, devido à devastação causada na Amazônia pela variante brasileira, que começa a se espalhar pelo país.

“Se deixarmos o vírus circular de forma frenética, outras mutações podem aparecer, por isso temos que acelerar a vacinação e multiplicar o sequenciamento para identificá-las”, insiste Pasternak.

Especialistas também apontam situações absurdas devido à ausência de orientações claras do ministério sobre os grupos a serem vacinados com prioridade.

“No meu estado, apenas pessoas com mais de 90 anos foram vacinadas. Mas os alunos de educação física, de 20 anos, já foram ”, lamenta Maciel.

Sem falar dos fraudadores, que conseguiram se vacinar antes de outros graças às suas ligações.

Apesar de todas essas disfunções, o ministro da Saúde garantiu que toda a população estaria imunizada “até o final do ano”, metade das quais “antes de junho”.

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“É possível que no final tenhamos o número de doses suficientes, mas será complicado no nível operacional, a menos que haja uma mudança radical na gestão por parte do ministério”, finaliza Guilherme Werneck, epidemiologista do ‘Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

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