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No Marajó, Brasil, a extrema miséria dos “ribeirinhos”, os pescadores tradicionais da Amazônia

São cerca de 11h e Maria Leal de Souza está atiçando a lareira para o almoço. Aos 81 anos, esta pequenina senhora de orelhas muito grandes e pele de pergaminho, moradora do Rio Ararapina na Amazônia, ainda cozinhando em fogo de lenha. Por tradição. Por falta de meios. Mas hoje, neste mês de janeiro, foi por hábito que ela acendeu a lareira: “Não há nada para comer durante três dias”confidencia a matriarca timidamente.

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“Aqui, comemos uma refeição por dia, no máximo”, ela diz. Na sua frágil cabana sobre palafitas, os armários estão vazios. As panelas e frigideiras estão penduradas na parede, imaculadas e inúteis. “Só me resta água e farinha de mandioca”, disse o octogenário desdentado com um suspiro, sem conseguir ler o nome escrito na porta de sua casa e na carteira de identidade. Como quase todos os adultos da aldeia, Maria é analfabeta e não tem “nunca pôs os pés na escola”.

A pobreza extrema atinge cada uma das catorze famílias da comunidade rural de Santa Ana, ligada à vila de Melgaço. Situação comum no Marajó, este gigantesco rio e ilha arquipelágica de 500 mil habitantes, tão grande quanto a Suíça, perto de Belém, na foz do Amazonas. A região conquistou o nada invejável título de área mais pobre do Brasil nos últimos anos. Com uma pontuação de 0,418, Melgaço apresenta o pior índice de desenvolvimento humano do país.

“Não há mais animais na floresta nem peixes no rio”

A privação afecta particularmente Ribeirinhos (do português Ribeira, o “rio”), essas populações de pescadores tradicionais que vivem em casas sobre palafitas às margens dos cursos d’água. Na maior parte, estes são caboclosmestiços de indígenas e brancos que vieram para a Amazônia no final do século XIXe século, durante a famosa “febre da borracha”. Incontáveis, haveria centenas de milhares, até milhões, espalhados de uma ponta à outra da grande floresta.

Em Santa Ana, no meio da selva, entre açaís e mangueiras centenárias, ” estamos com fome “, resume Maria Leal. As crianças de estômago vazio tentam tirar frutas das árvores com estilingues. Os adultos aquecem farinha de mandioca num antigo forno a lenha com aspecto medieval. Ao anoitecer, os homens vão pescar no rio, Rio. A captura do dia anterior foi medíocre: cerca de dez pequenos trairas, jeju E cara. Não o suficiente para alimentar toda a aldeia…

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Mas ficamos surpresos: como é possível passar fome em meio a uma natureza exuberante? “Não se deixe enganar pelas aparências”, insiste Manoel, 53 anos, um dos filhos de Maria, olhos escuros e camisa pólo esfarrapada. Em Santa Ana, o número de famílias triplicou em apenas algumas décadas. “Ararapina está cheia de gente. Não há mais animais na floresta nem peixes no rio”ele observa.

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