FIGAROVOX/TRIBUNA – Num texto muito pessoal, a agricultora Anne-Cécile Suzanne relata o seu dia a dia e as angústias vividas pela sua profissão. E também denuncia a duplicidade da União Europeia que, segundo ela, impõe padrões mortais ao mesmo tempo que aumenta as importações.
Anne-Cécile Suzanne é agricultora e consultora. Ela publica Os sulcos que traçamos, publicado por Fayard.
São duas horas da manhã. Meu bebê está dormindo. Porém, não consigo mais dormir. Debaixo do galpão da minha fazenda, pela minha câmera, vejo que uma vaca jovem está em apuros. Ela empurra, mas sua panturrilha não consegue sair. A fadiga percorre meu corpo, minha cabeça zumbia. Pela primeira vez meu bebê me deixou dormir… Mas temos que ir. Pego minhas botas e saio. Está -8°C lá fora. Aproximadamente a temperatura das relações entre os agricultores e o decisor público.
Ao atravessar o pátio, penso neste trabalho que é meu. É feito de suas tristezas, de sua dureza. Mas acima de tudo ele é tão mal amado. Especialmente recentemente, quando Bruxelas decidiu que a criação de gado já não tinha razão de existir em território europeu. Poderíamos dizer que é bom para o clima, menos vacas ocupadas arrotando. Mas qual é o sentido, quando só importamos…
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