Em meio a uma onda de ataques a ministros e à própria sede, o Supremo Tribunal Federal (STF) em 2020 enfrentou um dos anos mais atípicos de sua existência.
A pandemia Covid-19 forçou os ministros a se retirarem, a maioria deles em risco, e a transmitir as sessões virtualmente.
Manifestantes jogaram fogos de artifício na sede do Tribunal, dias antes do chamado inquérito de notícias falsas, que investiga ataques contra ministros e suas famílias, ser legalmente reconhecido por 10 votos a 1.
No único voto contrário, o ministro Marco Aurélio Mello também marcaria o ano do STF com outra divergência – a decisão que ordenou a libertação do traficante André do Rap com base no pacote anticrime.
O Tribunal ganhou um novo presidente, o ministro Luiz Fux, que substituiu Dias Toffoli, e se despediu de seu reitor, Celso de Mello, substituído pelo primeiro candidato do presidente Jair Bolsonaro à instância mais importante do Judiciário: o ministro Nunes Marques.
Antes de deixar o Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello autorizou a abertura de inquérito para apurar declarações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro de que o Bolsonaro interferiu na Polícia Federal. E retirou o sigilo de um vídeo da reunião interministerial, apontado como prova na investigação.
Abaixo estão os principais eventos do ano:
Juiz de garantia suspensa – O vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, suspendeu indefinidamente a execução do chamado juiz de garantias, previsto no pacote anticrime aprovado pelo Congresso Nacional.
Ministro do STF Luiz Fux suspende constituição do juiz de garantia
Reassentamento – O Supremo Tribunal Federal decidiu que os aposentados que retornam ao mercado de trabalho não podem recalcular o valor do benefício por meio de “reintegração de posse”.
Supremo Tribunal proíbe reintegração de posse
Fim da votação – O Supremo Tribunal Federal declarou constitucional a regra da mini reforma eleitoral de 2015, que determinava que os candidatos ao Legislativo obtivessem pelo menos 10% ou mais no quociente eleitoral para serem eleitos. Por unanimidade, os ministros entenderam que a regra ajudou a diminuir os chamados “puxadores de votos”, candidatos eleitos com votação expressiva que acabaram “puxando” outros de mesma legenda com pouquíssimos votos.
STF mantém regra que reduz impacto de ‘alças de votação’
Ação mais antiga – O Supremo Tribunal Federal concluiu a ação judicial mais antiga, que está em andamento há mais de 50 anos. Por unanimidade, os ministros negaram pedido do Governo Federal que pretendia cancelar a venda dos imóveis da Fazenda Ipanema em Iperó (SP).
Investigação Bolsonaro – O Ministro Celso de Mello autorizou a abertura de inquérito para apurar declarações do ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro de que o Presidente Jair Bolsonaro interferiu na Polícia Federal.
Celso de Mello autoriza investigação para apurar as acusações de Moro contra o Bolsonaro
Doação de sangue por gays – O Supremo Tribunal Federal derrubou, por maioria de votos, as restrições à doação de sangue por gays que eram limitadas pelas normas da Anvisa e do Ministério da Saúde.
STF anula restrições à doação de sangue por gays
Teste de Covid de Bolsonaro – Após recursos em várias instâncias, o ministro Ricardo Lewandowski decidiu tornar públicos os resultados dos exames do presidente Jair Bolsonaro para o covid-19, doença causada pelo coronavírus. Os testes deram negativos.
AGU entrega os exames Covid-19 de Bolsonaro ao Ministro Supremo Ricardo Lewandowski
Fim do sigilo da reunião ministerial – O reitor Celso de Mello autorizou a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, cuja gravação foi apontada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova na investigação de suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal.
Celso de Mello derruba gravação secreta de reunião ministerial no dia 22 de abril
Atira contra o STF – Cerca de 30 partidários do presidente Jair Bolsonaro lançaram fogos de artifício contra o Edifício Supremo. O Presidente do Tribunal, ministro Dias Toffoli, afirmou que o tribunal “nunca estará sujeito, por não ter sido submetido em toda a sua história, a qualquer tipo de ameaça”.
Após queima de manifestantes no STF, Toffoli diz que o STF não está sujeito a ameaças
Pesquisa de notícias falsas – O STF decidiu, por 10 votos a 1, dar continuidade ao chamado “inquérito de notícias falsas”, aberto no ano passado por iniciativa do próprio tribunal, para apurar a disseminação de informações falsas e ameaças a ministros.
Por 10 votos a 1, STF decide sobre a legalidade do inquérito de notícias falsas
Lançamento de Queiroz – O ministro João Otávio Noronha, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), concedeu prisão domiciliar a Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e à esposa, dizendo ser “recomendável” que ela ficar com o marido em casa por causa da saúde dele. O caso está no STF.
STJ concede prisão domiciliar a Fabrício Queiroz e sua esposa, Márcia Aguiar, foragida
Dossiê antifascista – O STF determinou a suspensão imediata da produção, pelo Ministério da Justiça, de dossiês sobre vida pessoal, escolhas pessoais, políticas e práticas cívicas de cidadãos identificados como integrantes do movimento político antifascista e em oposição ao governo Jair Bolsonaro .
STF considera que houve uso indevido de propósito na produção de dossiê pelo Ministério da Justiça
Eleições / divisão de recursos – O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a divisão de recursos entre brancos e negros pela primeira vez na eleição. Com a mudança, as eleições municipais tiveram a maior proporção e o maior número de candidatos negros já registrados pelo tribunal.
Partidos criticam cota de candidatos negros já nas eleições de 2020
Witzel longe – O Tribunal Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve, por 14 votos a 1, Wilson Witzel (PSC-RJ), decisão que o destituiu do cargo de governador do Rio de Janeiro por suspeita de corrupção.
STJ decide afastar o governador do Rio, Wilson Witzel
Presidente Fux – O Ministro Luiz Fux tomou posse como novo presidente do Supremo Tribunal Federal. A ministra Rosa Weber assumiu a vice-presidência. Primeiro judeu a assumir a presidência do STF, Fux sucedeu ao ministro Dias Toffoli e permanecerá no comando da mais alta corte do país pelos próximos dois anos.
Luiz Fux assume a presidência do Supremo Tribunal Federal
Lava Jato no plenário – O STF decidiu que as ações criminais e inquéritos serão analisados novamente em plenário, por todos os 11 ministros. Desde 2014, eles foram lotados nas duas turmas, compostas por cinco membros cada. Ações como as da Operação Lava Jato, por exemplo, saíram do Segundo Painel e agora estão sendo analisadas por todos os ministros.
STF decide quais processos criminais serão julgados novamente pelo plenário
Celso de Mello aposentado – O Ministro Celso de Mello, Reitor do Supremo Tribunal Federal, despediu-se do Tribunal com uma antecipada homenagem de despedida em plenário. Ele também foi homenageado por colegas da segunda classe, o que provocou discursos emocionantes.
O Ministro Celso de Mello se despediu das sessões do STF
Caso André do Rap – Por nove votos a um, o Supremo Tribunal Federal manteve a ordem de prisão do traficante André Oliveira Macedo, André do Rap, sendo o único voto contrário o de Marco Aurélio Mello, que havia permitido a libertação do traficante, que encerrou na corrida.
STF decide que André do Rap volte para a prisão
Novo ministro – Primeiro candidato do presidente Jair Bolsonaro, Kassio Nunes Marques assumiu a presidência do Ministro da Corte, em substituição ao ex-reitor Celso de Mello, que se aposentou após 31 anos na Justiça.
Ministro Nunes Marques assume posse no Supremo Tribunal Federal
Ataque de hacker – Um hacker invadiu o sistema do Superior Tribunal de Justiça (STJ), causando a suspensão dos julgamentos. Uma investigação foi aberta pela Polícia Federal para apurar o caso.
STJ afirma que sistema judicial foi alvo de ataque de hacker e pede investigação de PF