Saudade é intrinsecamente portuguesa. Só falamos bem disso em Lisboa, só sentimos profundamente no Porto. Alguns lusófilos franceses aventuraram-se, no entanto, a dar a sua definição. Com felicidade.
Pierre Barouh fala sobre“uma falta habitada”. Em sua canção Saudade, Bernard Lavilliers propõe a imagem de“um grande veleiro que nunca pegamos”. Gilles Lapouge descreve magnificamente a saudade como “tristeza deliciosa de coisas que não existem mais”. A saudade faz sempre parte da coabitação de oposições irredutíveis: o passado e o futuro, a felicidade e a tristeza, o próximo e o distante, o amor e o sofrimento, a realização e a perda, a plenitude e o vazio…
Obviamente, Portugal exportou a sua saudade para as suas colónias. Todo mundo agora conhece o refrigerante Agradecimentos cabo-verdianos à cantora Cesária Évora, que fez dele um sucesso internacional. A refrigerante dos migrantes.
Encontramos isso no Brasil, é claro. E lá também com uma música emblemática, carro-chefe da bossa nova: Chega de saudade (“Chega de nostalgia! ”), escrita pelo poeta Vinicius de Moraes e cantada por João Gilberto com música de Antonio Carlos Jobim.
Mas como dizer? Parece-me que a saudade sofreu alguma mutação durante a travessia do Atlântico. A saudade portuguesa é metafísica, filosófica, histórica, existencial. A saudade brasileira é mais leve, mais poética, mais pessoal, mais simples também: lembra muito a nossa boa e velha saudade!
Minha hipótese é que a maioria dos brasileiros, imigrantes por opção ou por força, não têm necessariamente uma grande saudade de um passado sombrio e difícil e que preferem direcionar seus pensamentos para um futuro melhor.
Por outro lado, há algo que todos os brasileiros adoram fazer: “matar a saudade” (“matar a saudade”!). Reencontrar velhos amigos que você não via há muito tempo, comer um prato delicioso da sua infância, voltar aos lugares de momentos agradáveis do passado, fazer uma festa e tanto como quando você tinha vinte anos, cantar velhos sucessos no local karaokê, é isso, “matar a saudade” ! É mais concreta e positiva que a saudade portuguesa, que tem sempre um toque de impossibilidade, uma conotação de sofrimento. No Brasil, definitivamente preferimos “fazer a pele” à saudade! É divertido.
Mas há também uma saudade grande, uma saudade imensa, uma saudade infinita: a “Saudade do Brasil”, a dos expatriados brasileiros “fora”, cada vez mais numerosos. É a saudade dos exilados.
Observação: isso “Saudade do Brasil” também afeta os expatriados franceses! Depois de alguns anos aqui hospedados, eles voltam para a França com uma saudade muito, muito grande do Brasil e dos brasileiros, uma saudade que tentarão em vão “matar” à distância com muita força. caipirinhas e música brasileira!
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