O ex-presidente brasileiro Lula foi eleito no domingo, 30 de outubro, com 50,9% dos votos. O candidato do Partido dos Trabalhadores pode ter beneficiado dos erros de política económica e social de Jair Bolsonaro. Com a pandemia da COVID-19, milhões de brasileiros voltaram à pobreza e estima-se que cerca de 30 milhões de pessoas sofram hoje de fome no país.
A economia brasileira sob Jair Bolsonaro
Ao longo da campanha eleitoral, Bolsonaro e Lula entraram em confronto sobre a questão da pobreza. Por sua vez, Bolsonaro apresentou um histórico negativo no combate à desigualdade. Jaime Márquez Pereira analisa a sua gestão da crise da Covid-19: “ O Brasil é o país da América Latina que mais recebeu ajuda pública. Bolsonaro assumiu o comando da chamada política Bolsa Família de Lula. No entanto, foi o declínio do emprego e dos salários o principal responsável pelo agravamento da desigualdade, e não apenas da pobreza, e, portanto, do ressurgimento da fome. A fome como fenômeno de massa desapareceu. » Contudo, em 2020, a ajuda emergencial foi distribuída aos grupos mais pobres. Sibyl Rizk explica: “ O auxílio não foi suficiente, mas também foi pago para quem realmente não precisava, enquanto outros que não podiam conseguiram o auxílio emergencial. Houve muitos problemas na distribuição desta ajuda. »
Políticas económicas implementadas desde o fim da ditadura
O Brasil sempre foi um país desigual, mas com o fim da ditadura militar em 1985, havia esperança de uma redistribuição mais justa. De acordo com Sibyl Rizk: “ Se considerarmos a década de 1980, descobrimos que foram 10 anos perdidos economicamente, mas não politicamente. Nos movimentos sociais, de grande importância para o movimento sindical, havia realmente esperança de que a democracia brasileira pudesse corrigir um pouco a desigualdade para alcançar uma distribuição mais igualitária de salários e condições de vida. » Mas na década de 1980, as medidas monetárias foram postas em prática pelos Estados Unidos, em particular pela Reserva Federal, o que teve o efeito de mergulhar o país numa recessão económica. No final da década, as políticas económicas neoliberais foram postas em prática. Jaime Márquez Pereira faz um balanço desta década: “ É uma linha divisória. A famosa subida das taxas de juro em 1982 foi a causa de uma crise da dívida externa manifestada primeiro pelo incumprimento do México e depois pelo incumprimento do Brasil em 1985-86, mas em 1981 já podíamos ver as coisas a aproximarem-se. Falaremos da década perdida no caso do Brasil, que junto com a Argentina são os dois países com os maiores índices de inflação. »
Jaime Márquez Pereira, Brasil e México são dois caminhos na globalizaçãoKarthala, 2004.
Mundo das culturas
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