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“Zemmour é mesmo o Bolsonaro francês”

Nascido em 1987, Miguel Lago é analista e pesquisador brasileiro, especializado em assuntos públicos e as ligações entre democracia e novas tecnologias. Professor da Columbia University (Nova York) e da Sciences Po Paris, é cofundador da ONG Nossas, um laboratório “tecnocívico”, ajudando jovens ativistas latino-americanos a desenvolver seus projetos. Ele também dirige o Institute for Health Policy Studies, um centro de pesquisa em políticas de saúde sediado no Brasil.

Comparamos prontamente Eric Zemmour ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump. A comparação com o líder brasileiro, Jair Bolsonaro, também faz sentido, na sua opinião?

Sim bastante. Eric Zemmour tem semelhanças óbvias com Jair Bolsonaro. Talvez até mais do que com Donald Trump. Em primeiro lugar, Zemmour e Bolsonaro são “de fora” do sistema político partidário. Em 2018, durante sua campanha presidencial, Bolsonaro era apenas um deputado marginal, apoiado por um partido político microscópico, sem redes substanciais nem tempo de televisão. Zemmour também está embarcando na eleição presidencial sem experiência eleitoral. Isso os diferencia de Trump, que já havia vencido as primárias do Partido Republicano.

Outro ponto em comum: ambos nunca dirigiram nada. Eles se davam a conhecer apenas pela capacidade de expressar opiniões, de “dizer o que pensam”. Em vinte e sete anos no Congresso, Bolsonaro quase não teve projetos de lei aprovados. Mas ele estava muito presente nas redes sociais e na mídia, como Zemmour, colunista e polemista de sucesso. Novamente, Trump tem uma trajetória diferente: ele é um homem de poder, que há décadas projeta a imagem de um bilionário e um poderoso líder empresarial.

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Por fim, observo que Zemmour e Bolsonaro compartilham a mesma visão paranoica do mundo. Para ambos, existe um “inimigo interno”. Traidores, “falsos franceses” ou “falsos brasileiros”. No caso de Zemmour, trata-se dos “global-cosmopolitas” pró-europeus e liberais, que conspirariam para “substituir” o povo francês. Na de Bolsonaro, trata-se dos “comunistas-globalistas”, ligados aos movimentos LGBT, negros, indígenas ou defensores do meio ambiente, que enfraqueceriam o Brasil e o venderiam para potências estrangeiras… .

O que têm em comum o ensaísta francês, que se orgulha de referências históricas, e o capitão brasileiro de estilo popular e muitas vezes rudes?

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