(Brasília) O ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro foi condenado sexta-feira a oito anos de inelegibilidade por “abuso de poder”, uma rejeição retumbante devido às informações “falsas” que divulgou no sistema de votação eletrónico antes da sua derrota nas eleições de 2022.
Bolsonaro, 68 anos, denunciou uma “facada nas costas” após este julgamento que o priva de uma candidatura às eleições presidenciais de 2026 e abre a batalha pela sua sucessão dentro da direita e da extrema DIREITA.
“Estamos a caminho da ditadura”, trovejou, anunciando imediatamente que iria recorrer ao Supremo Tribunal. “Não estou morto, continuaremos trabalhando […]. Este não é o fim da direita no Brasil”, disse o líder da extrema direita à imprensa durante viagem a Belo Horizonte, no sudeste.
A audiência de sexta-feira foi decisiva: permitiu chegar à maioria, antes de um resultado final de cinco votos a dois entre os sete magistrados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de Brasília, levando a uma condenação em forma de golpe de trovão .
Ausente ao longo das quatro sessões deste julgamento que começou na semana passada, o antigo chefe de Estado (2019-2022) foi condenado por “abuso de poder político e utilização indevida de meios de comunicação”.
Em questão: suas críticas desprovidas de provas contra a suposta falta de confiabilidade das urnas eletrônicas, poucos meses antes da eleição vencida por seu rival de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva.
O tribunal havia alertado antes das eleições que “não admitiria extremismo criminoso” nem “informação fraudulenta, desinformação, com o objetivo de enganar o eleitor”, lançou o presidente do TSE, Alexandre de Moraes.
Um dos pesos pesados do governo Lula, o ministro da Justiça Flávio Dino, não escondeu a satisfação após o julgamento. “A democracia venceu o teste mais difícil das últimas décadas”, respondeu ele.
“Narrativa delirante”
Um discurso que Bolsonaro fez em julho de 2022 a diplomatas na residência presidencial no Alvorada, e transmitido pela televisão pública e pelas redes sociais, esteve no centro do julgamento. O ex-capitão do Exército disse querer “corrigir falhas” no voto eletrónico com a “participação das Forças Armadas”.
Este discurso sobre uma suposta vulnerabilidade, propícia à fraude, do sistema eleitoral, este saudoso da ditadura militar (1964-1985) terá martelado durante a sua campanha.
Ele alimentou a ira de seus apoiadores mais radicais que, no dia 8 de janeiro, poucos dias após a posse de Lula, invadiram e saquearam as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em Brasília.
Os juízes do TSE que votaram pela condenação criticaram duramente a conduta do ex-presidente.
O seu discurso ganhou ares de uma “narrativa delirante com efeitos nefastos para a democracia” e não foi um ato isolado mas sim uma escolha “forjada estrategicamente ao longo do tempo, com fins eleitorais”, trovejou quinta-feira o juiz André Ramos Tavares.
Por outro lado, para o colega Raul Araujo, o seu comportamento “não foi de molde a justificar uma medida extrema de inelegibilidade”.
A questão da liderança do campo de Bolsonaro já está sendo colocada. Nenhum valor é necessário no momento como recurso.
Além disso, “Bolsonaro tem um potencial muito forte para fazer reis. Quando ele indica um candidato à população, consegue transferir os votos de forma impressionante”, comentou Leonardo Paz, pesquisador da Fundação Getulio Vargas, à AFP. E o bolsonarismo está mais arraigado do que nunca.
Os partidos de direita e de extrema-direita são ainda mais fortes no Parlamento do que eram sob o mandato de Jair Bolsonaro. Este último também perdeu por pouco, com apenas 1,8% de diferença no segundo turno contra Lula, de volta após dois mandatos (2003-2010).
Bolsonaro tem outros desafios jurídicos pela frente. Além de cerca de quinze processos no tribunal eleitoral, o ex-líder é alvo do Supremo Tribunal em cinco processos, nomeadamente pelo seu alegado papel de inspiração para os ataques de 8 de janeiro. Ele corre o risco de ser preso.
Em qualquer caso, ele pode contar com o apoio de sua esposa Michelle, por vezes descrita como uma possível herdeira política. Apoiando a referência bíblica, ela expressou no Instagram sua confiança e fé naquele que é seu “amor” e seu “capitão”.