Quinta-feira, 16 de setembro de 2021 às 21h39
Escrito por Khaled Atouta.
BRASÍLIA – Desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil em 2018, sua relação com o legislativo e o judiciário não tem sido nada tranquila. Mas, nos últimos meses, a tensão assumiu um aspecto preocupante e se tornou uma fonte de temor para a estabilidade econômica e a democracia de um Estado geopolítico central de sua região.
A crise institucional culminou com a abertura de várias investigações contra o líder de direita, cujos aliados já haviam sido presos. O chefe de Estado, que não vê com bons olhos as sucessivas anulações de condenações e julgamentos contra Lula da Silva, seu rival de esquerda nas eleições presidenciais de 2022.
E Bolsonaro, durante as manifestações de seus partidários, que exigiam a sétima tendência por ocasião do Dia da Independência, exigia a intervenção militar e a dissolução do STF, desobedecendo às decisões dos ministros do STF, alguns dos quais se tornaram ferrenhos inimigos do os juízes da Suprema Corte. O presidente que continua a questionar a credibilidade das próximas eleições.
As palavras do chefe de Estado, sem partido depois de sair do Partido Social-Liberal e sem ter criado outro, suscitaram indignação nas organizações políticas, judiciárias, nacionais e internacionais.
Seus críticos responderam rapidamente cinco dias depois, com manifestações pedindo a demissão de Bolsonaro, como foi o caso da ex-presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (Trabalhista, esquerda), que foi deposto em 2016. Ele já havia evitado dezenas de reivindicações por prestação de contas, Todos estão sepultados sob o veto do Presidente da Câmara, Arthur Lyra.
Em uma tentativa de virar a situação a seu favor, Bolsonaro apresentou uma moção para o impeachment de um de seus juízes mais negativos, mas seu projeto de lei no Senado não teve sucesso.
Marcos Vinicius de Freitas, especialista brasileiro em geopolítica e relações internacionais, explica ao MAP que os juízes não são eleitos, mas derivam sua legitimidade daqueles que os nomearam, no caso os senadores. “Por isso a função do juiz é altamente protegida pela Constituição do Brasil. Os juízes não promulgam as leis. Ele afirma que elas criam a ijtihad, forma provisória de compreensão das leis, limitada ao espírito originário estabelecido pelo legislador, o legítimo representante do povo. “
Em meio a essa tensão política e judicial no Brasil, primeira economia da América do Sul e país mais populoso da região (213 milhões de pessoas), a esfera política, a sociedade civil e a mídia continuam expressando temores do que poderia acontecer se a esquerda vence em 2022.
“Já passamos por essa situação nos Estados Unidos, mas aí todo mundo finalmente entende que o rodízio é a regra do jogo. No Brasil, vemos resistência nesse quesito. O rodízio é considerado imprudente”, avalia um professor visitante do Chinese Foreign Assuntos Universitários, que vê ameaças de demissão prejudiciais à democracia e ao Brasil.
Na verdade, o Sr. de Freitas insiste na importância crítica de estabilizar um país gravemente afetado pela crise de saúde. Entre as instituições que devem se manter estáveis nas transições, temos aquelas que devem seguir a política de Estado, como a diplomacia, as forças armadas, o banco central e o Supremo Tribunal Federal. Não devemos notar em nenhum desses setores um viés ideológico por parte daqueles que detêm funções de Estado ”.
No caso específico do Supremo Tribunal Federal, “Decidiu-se conceder aos seus membros mandatos mais longos (são nomeados vitalícios com idade máxima de aposentadoria de 75 anos) por períodos superiores aos eleitorais, objetivando-se a permanência após aqueles a a quem foram nomeados e, assim, com a experiência do tempo, para manter a estabilidade necessária para os períodos de transição, uma vez que não estão sob o controle da população ”, observa um membro sênior do Centro de Políticas para o Novo Sul (PCNS ) pense Shukr.
E alertar que “a pior coisa que pode acontecer é um juiz se tornar uma celebridade e acreditar que é um vigilante. É uma receita para o desastre”.
Na verdade, a construção da democracia é um processo gradual. Seu objetivo – mais do que a liberdade individual – é construir uma sociedade estável que garanta a possibilidade de crescimento individual e desenvolvimento coletivo.
Para o Sr. de Freitas, o representante eleito deve ter o tempo necessário para poder levar a cabo o plano de seu governo. Se o eleitor não entende esse projeto, o instrumento de “denúncia” torna-se lugar-comum e “desintegra o país e o leva a momentos de instabilidade institucional e declínio econômico”.
O Brasil precisa de paz e estabilidade mais do que nunca. A agenda do país é exigente e os problemas são profundos. É hora de todos entenderem seu papel. Os juízes não legislam, os governantes não tornam a vida dos cidadãos miserável e a imprensa deve informar, não doutrinar. Se todos entenderem seu papel, o país seguirá em frente. E o mais importante é que aumentar a renda per capita dos brasileiros é uma meta de todos ”, finaliza o especialista brasileiro.
Embora a contenda política pareça não dar trégua ao Brasil, as declarações do próprio presidente, de seu vice-presidente e dos militares sinalizam uma pacificação crítica de um país com desemprego e inflação em alta, situação em que pode ocorrer um colapso institucional. Só piorando.
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