(São Paulo) Por que o choque Brasil-Argentina foi interrompido pelas autoridades sanitárias brasileiras? Será retomado em uma data posterior? Diferentes versões se opuseram na segunda-feira para explicar este episódio horrível.
As imagens surreais de membros da agência de saúde Anvisa entrando no gramado para impedir a partida das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 em São Paulo estiveram na primeira página de jornais do mundo todo, principalmente da Argentina, onde o diário esportivo Olé descreveu o cenário. “o maior baile de máscaras do futebol mundial”.
Em nota divulgada na segunda-feira, a FIFA disse “lamentar as cenas que antecederam a interrupção da partida, que impediram milhões de torcedores de assistir a uma partida entre duas das maiores nações do mundo”.
Os fãs de futebol ficaram salivados com a ideia deste “superclássico”, a primeira oposição entre Neymar e Lionel Messi desde que o sêxtuplo Bola de Ouro argentino se juntou ao brasileiro no Paris SG, mas foram tratados com um triste espetáculo devido a uma sucessão de inconsistências.
“Notícias falsas”
A primeira delas: como a Argentina selecionou quatro jogadores da Premier League, enquanto nove brasileiros que atuam na Inglaterra não foram dispensados por seus clubes?
Destes quatro jogadores, três iniciaram o jogo: os médios do Tottenham Giovanni Lo Celso e Cristian Romero, bem como o guarda-redes Emiliano Martinez (Aston Villa).
Segundo a Anvisa, eles teriam fornecido “informações falsas” em sua ficha de entrada no Brasil, não informando que haviam permanecido no Reino Unido nos últimos quatorze dias antes de sua chegada. Na segunda-feira, a polícia brasileira anunciou que abriu uma investigação sobre o assunto.
A Federação Argentina de Futebol (AFA), por sua vez, negou qualquer “mentira” por parte dos jogadores envolvidos. Ela “aguarda a resolução do comitê disciplinar” da FIFA, declarou seu presidente, Claudio Tapia.
A Anvisa diz que agiu por meio de uma portaria de 23 de junho proibindo a entrada em território brasileiro de qualquer estrangeiro do Reino Unido, Índia ou África do Sul, para evitar a disseminação de variantes do coronavírus.
Mas isso não explica por que os agentes esperaram que a partida começasse a estourar em campo, em vez de intervir antes do encontro, sabendo que os jogadores estavam em São Paulo desde sexta-feira.
“Eles tiveram 72 horas (para colocar os jogadores em quarentena), mas vieram no meio do jogo”, lamentou o técnico brasileiro Tite, em meio à confusão.
“Já estamos aqui há três dias, por que eles não vieram antes?”, Acrescentou Messi.
Segundo diversos meios de comunicação brasileiros, os agentes queriam intervir pouco antes da partida, logo após a chegada dos argentinos ao estádio, mas estes teriam se trancado no vestiário até o momento do apito inicial.
O Annvisa garantiu ainda que teve encontro no sábado com representantes da Confederação Sul-Americana (Conmebol), da Confederação Brasileira (CBF) e da AFA para informá-los da necessidade de colocar os quatro argentinos da Premier League em quarentena.
“A presença em campo de jogadores que infringiam as leis e normas sanitárias brasileiras, ao fornecer informações falsas às autoridades, motivou essa intervenção”, justificou a Anvisa em nota.
La CBF muda de versão
Na tarde desta segunda-feira, a CBF respondeu, referindo em nota que durante a reunião, “os argentinos foram informados da existência de uma irregularidade na entrada de jogadores, que deviam ser colocados em quarentena e receberam aconselhamento” para se candidatarem a especial permissão.
Após o encontro, os jogadores foram treinar, “violando as instruções dadas”, continua a CBF. O pedido de dispensa acabou sendo rejeitado no domingo e a delegação argentina “foi notificada, diretamente à Arena NeoQuímica, com tempo suficiente para adotar os procedimentos necessários”.
Porém, na noite de domingo, o presidente interino da CBF, Ednaldo Rodrigues, havia dado outra história para contar à TV Globo: “Antes do início da partida, o supervisor nos disse que podiam jogar, mas depois, por algum motivo desconhecido , eles mudaram de ideia ”.
Já o goleiro argentino Emiliano Martinez considerou que a partida foi interrompida “por motivos políticos”. “É uma pena, uma pena porque íamos ganhar”, perdeu a paciência.
César Luis Menotti, coordenador de eleições dentro da AFA, também atribuiu a suspensão a “uma manobra política que preocupa o Brasil”. “Estou no futebol desde 1960, nunca tinha visto tal coisa, ninguém consegue explicar a intervenção política de ontem (domingo), é inusitada, ridícula”, acrescentou o treinador do campeão mundial da Albiceleste em 1978.
Os argentinos finalmente voltaram a Buenos Aires durante a noite e a bola agora está nas mãos da FIFA. “Os relatórios oficiais serão analisados pelos órgãos disciplinares, que tomarão uma decisão oportunamente”, afirmou em comunicado a organização que rege o futebol mundial.
Nesse caso, a partida pode ser retomada em data posterior, mas o calendário internacional já está extremamente agitado devido a muitos adiamentos das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 por conta da pandemia.
Para contornar essa situação, a FIFA poderia dar a vitória a uma das duas equipes no tapete verde (3-0), que prenuncia debates acalorados sobre as responsabilidades de cada lado na mascarada de domingo.