Jesus Figueredo é Mestre de Coro da Ópera do Rio de Janeiro. Em dezembro passado, após uma visita ao prédio, tivemos a oportunidade de entrevistá-lo. Ele nos falou sobre a situação da arte lírica no Rio e sobre uma realidade muito diferente daquela que conhecemos na Europa.
Olá Jesus, você é o Mestre do Coro do Theatro Municipal de Rio (Ópera do Rio). Quais são suas outras funções?
Também sou presidente da Associação Coral do Rio e, além disso, também fui convidado a reger a orquestra para concertos e balé no Theatro Municipal.
Qual a idade do Theatro Municipal e qual sua capacidade?
O Teatro foi inaugurado em 1909. São aproximadamente 2.300 lugares.
No geral, qual é o público do Theatro?
Há realmente um público aberto à arte lírica. O problema é a comunicação e divulgação das informações sobre os espetáculos. De fato, o orçamento de comunicação é insuficiente e o público não necessariamente está suficientemente informado sobre o que está acontecendo no Theatro, o que inevitavelmente afeta o preenchimento da sala.
Neste mês de dezembro, no Rio, é verão. Normalmente, a temporada vai de que data até que data?
A temporada começa em março e termina em dezembro. Janeiro e fevereiro são meses de férias aqui. Em fevereiro, quando a temporada estiver confirmada, começaremos a trabalhar com o coral, o balé e depois com a orquestra. E, finalmente, voltar a trabalhar, será um prazer. Os artistas precisam do palco, do público. Sim, precisamos muito trabalhar!
Como foram as últimas temporadas?
Durante a pandemia, houve apresentações de shows, sem plateia, em streaming. Na temporada passada, conseguimos, no entanto, dar alguns com público, em particular apresentações de balés sem orquestra, ou de uma orquestra sem coro… Mas eram pequenos conjuntos.
Normalmente, quantos títulos de ópera são apresentados durante uma temporada?
Em tempos “normais”, há quatro óperas e quatro balés, além de concertos com orquestra ou coro. Esta é, obviamente, uma taxa de produção mais baixa do que a que é feita nos cinemas europeus.
Quando olhamos para as temporadas anteriores, há compositores sul-americanos que não ouvimos na Europa e óperas francesas como Fausto e Os contos de Hoffmann. Como são feitas as escolhas de programação?
A preparação da temporada (óperas e balés) é realizada pelo Diretor Artístico. Este ano, ele acaba de se aposentar (era Diretor Artístico e também maestro titular) e estamos aguardando seu sucessor. Normalmente, o repertório mais programado é a ópera italiana, seguida da ópera francesa e também das óperas brasileiras do século XIX. O compositor brasileiro que mais destacamos é Carlos Gomes, porque ele é o compositor mais importante do país. Além disso, há muito poucas óperas alemãs, tchecas, russas…
Nas últimas temporadas, tenho visto principalmente ópera francesa. Você pode me dar alguns títulos italianos dados nas últimas temporadas?
Nos últimos anos tem havido Don Pasquale, Un Ballo in maschera, Aida, Tosca, La Bohème, Norma. Mas você está certo, nas últimas temporadas não demos muitas óperas italianas.
Em que circunstâncias foi formada a trupe da Ópera do Rio?
Os grupos de artistas da Ópera do Rio foram montados na década de 1930 com base nas companhias espanholas, italianas que aqui vinham, em turnês, começando no Teatro Amazonas em Manaus no Amazonas, em Belém, descendo até o Rio, São Paulo depois Montevidéu e Buenos Aires.
O que aconteceu é que um número parou no Rio e em São Paulo e não continuou suas viagens (risada). Assim, aos poucos formaram o corpo de artistas do Teatro Municipal, solistas, coro, orquestra e balé… O que explica a tradição da ópera italiana da casa.
De onde vêm hoje os solistas que cantam em suas produções?
Temos, por um lado, cantores nacionais que estão fazendo uma bela carreira. Há também excelentes membros do Coro que são regularmente convidados a actuar a solo. E quando temos um pouco mais de dinheiro, convidamos também artistas internacionais, americanos, europeus… Nos anos 90, 2000, muitos artistas internacionais vieram até nós.
Depois foram dois anos de reforma e também um pouco mais de recursos financeiros. Infelizmente, em 2017, ocorreu uma grave crise financeira no Brasil e em particular no estado do Rio de Janeiro. É preciso ter em mente que cinco governadores estaduais acabaram presos por má gestão.
A temporada, portanto, foi interrompida. O Rio então sofreu enormemente; foi terrível… praticamente um ano perdido!
Começamos a nos recuperar em 2018 e 2019, mas não totalmente. Então em 2020… a pandemia chegou! Pode-se realmente dizer que os últimos cinco anos não são os melhores anos do Teatro!
Quem depende principalmente do financiamento da Ópera do Rio?
O Estado do Rio de Janeiro é responsável por nossos salários, pela manutenção do prédio e pelo funcionamento do Teatro. As leis relativas ao setor cultural dependem de três níveis: o estado federal, o estado do Rio e o municipal. Além disso, existe uma lei no Brasil – a Lei Rouanet – que permite deduções fiscais significativas para empresas que patrocinam eventos culturais.
Houve alguma mudança na política cultural após a eleição do presidente Bolsonaro?
Você sabe, quando o estado central tem consideração pela cultura, todo o país se beneficia dessa consideração positiva. Quando é o contrário, o país inteiro sofre!
Mas, como vocês entenderam, nossas maiores preocupações vêm da política do governo local (do Estado do Rio de Janeiro). Após a grave crise de 2017, tivemos boas relações com o Governo do Estado, mas nenhuma interferência com o Governo Federal.
Já sabemos mais sobre a próxima temporada?
Ainda não foi totalmente divulgado, especialmente, como eu lhe disse, há uma mudança de Diretor Artístico na ópera. Serão títulos muito populares e conhecidos para trazer o público de volta ao Teatro Municipal. Nesta fase, o que só podemos anunciar é que a temporada terá início no próximo mês de Abril com uma obra de Mozart para Coro e Orquestra.
Obrigado Jesus, por isso estamos aguardando os anúncios para informar nossos amigos europeus, principalmente aqueles que estarão viajando para o Brasil nos próximos meses. Vejo você em breve.
Visual: © Jesus Figueiredo e © Paul Fourier
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