Na ilha de São Luís, no nordeste do Brasil, uma equipe de arqueólogos escava há quatro anos. Nesta quinta-feira, 11 de janeiro, o Instituto Brasileiro de História e Patrimônio Artístico (Iphan), anunciou o fruto de anos trabalhando no chão. Uma descoberta “grandioso”segundo o Iphan. Objetos e outros achados que datam de milhares de anos e podem questionar os fundamentos da história da colonização humana no Brasil.
Tudo remonta a 2019, quando a MRV, gigante brasileira da construção, recorreu à empresa W Lage Arqueologia fundada pelo arqueólogo Wellington Lage. O objetivo: realizar um estudo no local, procedimento clássico antes da construção de moradias. Ossos humanos, ferramentas de pedra, fragmentos de cerâmica… Rapidamente, as escavações no local revelaram milhares de objetos antigos que poderiam datar de até 9.000 anos atrás. Em quatro anos de escavações, foram desenterrados 43 esqueletos humanos e mais de 100 mil objetos antigos.
Uma camada ancestral com dois metros de profundidade
Os pesquisadores vão agora inventariar os objetos, analisá-los detalhadamente, antes de exibi-los e publicar suas descobertas. “Estamos trabalhando há quatro anos e mal arranhamos a superfície”, insiste o arqueólogo-chefe, paulista.
São Luís está localizada na parte oeste da ilha cujo nome original é Upaon-Açu, numa região de transição entre o clima equatorial da Amazônia e o clima semiárido do sul do Brasil. A cidade é a capital do estado do Maranhão, localizada não muito longe da Guiana, no norte do Brasil. Coberto por vegetação tropical e delimitado pela malha urbana cada vez maior de São Luís, o terreno se estende por seis hectares. A equipe de Lage, formada por 27 integrantes entre arqueólogos, químicos, um historiador e um documentarista, documentou quatro épocas diferentes no local. As primeiras descobertas já chamam a atenção da comunidade científica.
A camada superior foi deixada pelo povo Tupinambá, que vivia na região quando os colonos europeus fundaram São Luís em 1612. Em seguida vem uma camada de objetos antigos típicos dos povos da floresta amazônica, seguida por uma “sambaqui” : uma pilha de cerâmica, cacos e ossos usados por certas comunidades indígenas para construir suas casas ou enterrar seus mortos. Ainda abaixo, com cerca de dois metros de profundidade, há outra camada, deixada por um grupo que fez cerâmica rudimentar e viveu lá há cerca de 8 mil a 9 mil anos. É muito mais antigo que o mais antigo “pré-sambaqui” encontrado até agora na região, que data de cerca de 6.600 anos atrás, Ponta Wellington Lage. Para ele, “isso pode mudar completamente a história não só da região, mas de todo o Brasil”.
“Um marco na pré-história brasileira”
Os cientistas há muito debatem a questão de quando e como os primeiros humanos chegaram às Américas vindos da Ásia. As descobertas em São Luís sugerem que os primeiros humanos se estabeleceram nesta região do atual Brasil pelo menos 1.400 anos antes do que se acreditava. Os arqueólogos estão planejando novas análises para datar os objetos com mais precisão. O site já representa “um marco na pré-história brasileira”, detalhou o Iphan em comunicado à imprensa.
Para esta organização, “é um testemunho da longa história da colonização humana” Na região, “revelando um passado anterior” às vezes já documentado. O arqueólogo Arkley Bandeira, da Universidade Federal do Maranhão, que está construindo um laboratório e um museu para abrigar esse tesouro, com financiamento do grupo MRV, ressalta que o local também poderá fornecer informações valiosas sobre a cultura e a história dos povos antigos. Descobertas que, segundo Banderia, “Desempenham um papel crucial ao contar a história da nossa longa história.”