Espera-se que o Supremo Tribunal do Brasil decida na próxima semana contra as tentativas do poderoso lobby agrícola do país de limitar as reivindicações de terras indígenas em áreas que ocuparam antes de 1988.
Advogados e defensores dos direitos indígenas acreditam que a maioria dos nove membros do tribunal votará até quarta-feira para rejeitar a restrição de data, alegando que é inconstitucional. A votação atualmente está em 4-2 contra a proposta.
“Espera-se que pelo menos mais dois juízes votem contra na próxima semana”, disse Juliana Di Paola, advogada do Instituto Social e Ambiental ISA, uma organização sem fins lucrativos que defende os interesses indígenas.
O Congresso apresentou projetos de lei que permitiriam reservas indígenas apenas em terras ocupadas por comunidades indígenas quando o Brasil adotou sua constituição em 1988.
Os interesses agrícolas brasileiros querem um prazo para garantir as reivindicações dos agricultores não indígenas às terras que colonizaram como parte da fronteira agrícola em expansão do Brasil.
O caso que tramita no tribunal surge de uma disputa no estado de Santa Catarina, onde o governo rejeitou uma reivindicação de terras feita pelo povo Shoklinge, que foi expulso de suas terras ancestrais por produtores de tabaco. O governo alegou que a tribo Shokling não vivia na área disputada em 1988.
Os líderes indígenas dizem que a decisão do Supremo Tribunal é crucial para resolver cerca de 300 pedidos pendentes de reconhecimento de terras, o que protegeria as suas comunidades de apropriações de terras e invasões por madeireiros ilegais e garimpeiros descontrolados.
“A rejeição do prazo é um dado adquirido”, disse Maria Paula Fernandez, porta-voz da APIB, a maior organização indígena.“O debate agora se concentrará na compensação para os agricultores que perderam suas terras colonizadas”.
Segundo o último censo, o número de indígenas no Brasil é de 1,6 milhão, metade dos quais vive em suas terras ancestrais, especialmente na região amazônica, mas também em estados agrícolas.