RIO DE JANEIRO – Pouco depois que o presidente Donald J. Trump foi banido do Twitter no início deste ano, o líder brasileiro com a mesma opinião apelou para seus milhões de seguidores no site.
“Inscreva-se no meu canal oficial no Telegram”, perguntou o presidente Jair Bolsonaro.
Desde então, o Telegram, uma plataforma de mensagens criptografadas e mídia social administrada por um evasivo exilado russo, acumulou dezenas de milhões de novos usuários no Brasil.
Sua popularidade crescente no Brasil e em outros lugares é alimentada por políticos conservadores e comentaristas para os quais se tornou a emissora mais permissiva de conteúdo problemático – incluindo desinformação – em um ecossistema de mídia social que enfrenta pressão crescente para combater notícias falsas e polarização.
Embora o WhatsApp continue sendo de longe a plataforma de mensagens dominante no Brasil, o Telegram está progredindo rapidamente. Até agosto, ele havia sido instalado em 53% de todos os smartphones no Brasil, ante 15% dois anos antes, de acordo com um relatório.
Fundado em 2013, o Telegram se tornou uma ferramenta cobiçada por ativistas, dissidentes e políticos – muitos em países repressivos como Irã e Cuba – para se comunicarem em particular.
Mas autoridades e especialistas do governo brasileiro temem que o aplicativo se torne um poderoso vetor de mentiras e vitríolos antes das eleições presidenciais do próximo ano – um momento político tenso no país.
Bolsonaro, cujas perspectivas de reeleição são ameaçadas por sua popularidade em declínio, seguiu o manual de Trump e começou a lançar dúvidas sobre a integridade do sistema eleitoral brasileiro, levantando a possibilidade de um resultado contestado. Sua alegação infundada de que as urnas eletrônicas serão fraudadas irritou a oposição e os principais juízes do país, que dizem que a abundância de desinformação na política brasileira está causando danos duradouros à democracia.
“Sabemos que a desinformação sistêmica é produzida por estruturas muito bem organizadas e financiadas”, disse Aline Osório, secretária-geral do tribunal eleitoral brasileiro que desenvolve seu programa contra a desinformação.
A Sra. Osório disse que o tribunal estabeleceu relações de trabalho construtivas com executivos de outras empresas de mídia social que se tornaram vetores de campanhas de desinformação. Mas seus esforços para entrar em contato com o Telegram, com sede em Dubai, não tiveram sucesso.
“O Telegram não tem representante no Brasil, o que dificultou o estabelecimento de uma parceria da mesma forma que fizemos com outras plataformas”, afirmou.
O Telegram não respondeu a um pedido de entrevista. As consultas à imprensa são enviadas por meio de um bot na plataforma.
Especialistas afirmam que o conteúdo e as conversas políticas migraram para o Telegram significativamente nos últimos anos no Brasil e em outros países, em grande parte devido à capacidade do aplicativo de replicar conteúdo em massa.
Os chats em grupo podem incluir até 200.000 usuários, o que é exponencialmente maior do que o limite do WhatsApp de 256. O WhatsApp limitou a capacidade dos usuários de encaminhar mensagens após serem criticados no Brasil e em outros lugares pelo papel que desempenhou em campanhas de desinformação nas últimas eleições.
Além de chats em grupo, o Telegram hospeda Canais, uma ferramenta de comunicação de massa unilateral usada por empresas, artistas e políticos para distribuir mensagens, vídeos e arquivos de áudio. O canal de Bolsonaro ultrapassou 1 milhão de assinantes nas últimas semanas, tornando-o um dos políticos mais seguidos do mundo na plataforma.
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