A delegação brasileira que participará de Olimpíadas de Tóquio (23 de julho a 8 de agosto) fará um curso online sobre a importância do combate ao racismo, flagelo que atinge fortemente o país sul-americano. O treinamento, com duração total de 30 horas, foi lançado esta semana pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para os 650 atletas, treinadores, médicos, nutricionistas e demais representantes do país que irão ao Japão.
“O objetivo é fornecer informações, conhecimento e abrir um grande debate sobre o racismo no esporte.“, explica a AFP Rogerio sampaio, diretor geral do COB. “O racismo é um problema estrutural […] e o mundo do esporte não pode mais tolerar esse tipo de atitude“, insiste este ex-judoca, campeão olímpico em 1992 em Barcelona.
Para Rogério Sampaio, a formação de atletas pode constituir uma “Primeiro passo“contribuir para o combate ao racismo no Brasil, um país de 212 milhões de habitantes onde 55% da população é negra ou parda.
Os cursos online mostram, em particular, em que circunstâncias o racismo pode se manifestar no mundo do esporte e como deve ser denunciado. Os atletas também aprenderão noções sobre a extensão das desigualdades raciais enraizadas durante séculos no Brasil, o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888. ”Sabemos que não é suficiente, mas é importante“, acrescenta o dirigente, que garante ser esta a primeira iniciativa deste tipo por parte de um comité olímpico nacional.
Apesar do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos e da mobilização de certas estrelas, como Naomi Osaka ou Lebron James, casos de racismo ainda são frequentes no esporte. Domingo, o jogador de futebol francês de Valence Mouctar Diakhaby deixou o campo em uma partida do Campeonato Espanhol contra o Cádiz, após acusar um jogador adversário, Juan Cala, por ter proferido um insulto racista contra ele. Terça-feira, o FC Nantes denunciou “odiosas observações racistas“e”ameaças de morte“do qual o ambiente franco-marroquino teria sido vítima Imran Louza nas redes sociais, após a derrota no domingo, por 2 a 1, para o Nice, na Ligue 1. E muitos casos de racismo também estragam regularmente o esporte brasileiro, e não só no futebol.
“Identificamos cada vez mais atos de racismo hoje, com a internet, mas antes havia muitos que não eram denunciados“, explica à AFP a ex-ginasta Daiane dos Santos. Em 2003, ela se tornou a primeira campeã mundial brasileira nesse esporte praticado por pouquíssimos negros como ela em seu país. E antes de ganhar a medalha de ouro no chão, Cidadão dos Santos, hoje com 38 anos, foi vítima de racismo. Ela ainda guarda lembranças amargas de outras ginastas que se recusaram a treinar ao lado dela ou de treinadores que se perguntavam por que uma garota negra queria se tornar ginasta. “Eu tive que desenvolver uma força de caráter para sobreviver a este tipo de opressão“, diz ela. Para a ex-ginasta, treinar como os do COB é necessário para que os racistas não tenham mais”desculpas“en se”escondendo-se atrás do humor“.”Devemos punir quem merece, com duras sanções“, ela insiste.
No Brasil, calúnias racistas são puníveis com pena de um a três anos de prisão. O COB também pode impor multas ou suspensões – temporárias ou permanentes – aos atletas que violarem seu código de ética, em particular em casos de racismo.