A imprensa canadense soube pela primeira vez que o efeito benéfico da castalagina, um polifenol encontrado nas bagas de camu camu, foi observado até mesmo em cânceres resistentes a esse tipo de tratamento. (Foto: The Canadian Press)
Pesquisadores em Quebec descobriram que bagas cultivadas na floresta amazônica mascaram polifenóis que modulam a flora intestinal e melhoram a eficácia da imunoterapia usada para tratar alguns pacientes com câncer.
A imprensa canadense soube pela primeira vez que o efeito benéfico da castalagina, um polifenol encontrado nas bagas de camu camu, foi observado até mesmo em cânceres resistentes a esse tipo de tratamento.
Os resultados pré-clínicos são tão cruciais que a primeira fase dos ensaios clínicos começará nos próximos dias em dois grandes hospitais de Montreal.
“Foi demonstrado (em camundongos) que (Castalagin) aumenta a eficácia da imunoterapia modulando o microbioma”, resumiu o Dr. Bertrand Rutte, do Departamento de Medicina da Universidade de Montreal. Pela primeira vez, é uma molécula biológica que pode modificar beneficamente o microbioma.”
Dr. Rutte e colegas das Universidades Laval e McGill administraram castalagina a camundongos que receberam transplantes fecais de pacientes resistentes a ‘inibidores de checkpoint imunológico’ (ICI). Esses medicamentos são usados para reativar a resposta imune ao câncer, mas alguns pacientes respondem melhor a eles do que outros.
Os pesquisadores descobriram que o prebiótico se liga às bactérias intestinais, Ruminococcus bromii, e aumenta a resposta anticâncer. Os mesmos resultados foram então obtidos em dois pacientes humanos.
Com base nesses resultados promissores, o Dr. Ruti e colegas do CHUM e do Jewish General Hospital estão lançando um ensaio clínico de fase I no qual 45 pacientes com câncer de pulmão ou melanoma estão envolvidos. A castalagina, também presente em grandes quantidades na casca de carvalho, será utilizada nesses pacientes além do ICI.
“Nós identificamos o ingrediente ativo”, disse o Dr. Ruti. A baga brasileira contém mais de cinquenta componentes diferentes, incluindo vitamina C, e foi demonstrado que não é vitamina C ou qualquer outro ingrediente encontrado nas bagas brasileiras, mas apenas os polifenóis.
A ligação entre o microbioma e problemas de saúde que vão da artrite à doença de Alzheimer tem despertado o interesse dos pesquisadores por vários anos. Foi o trabalho do professor Andre Maret, da Université Laval, que estudava o uso do camu camu para combater a obesidade em camundongos, que colocou o Dr. Rutte nesse caminho.
Dr. Ruti observou que, no caso de câncer, a composição do microbioma prevê a resposta do paciente à imunoterapia, e alguns pacientes receberão um transplante de fezes de um doador saudável para alterar o microbioma e melhorar a eficácia da imunoterapia.
Ele acrescentou que nem é preciso dizer que seria interessante poder dar um biomaterial a um paciente em vez de submetê-lo a um transplante de fezes.
Os potenciais efeitos protetores do camu-camu contra obesidade e diabetes já intrigaram os cientistas. A fruta é do tamanho de uma pequena ameixa e diz-se que contém vinte a cinquenta vezes mais vitamina C do que laranjas e limões. Também é caracterizada por seu alto teor de flavonóides.
Camu-camu é o fruto de um pequeno arbusto que cresce especialmente perto dos cursos d’água do Peru, Colômbia, Brasil e Venezuela.
Os resultados deste estudo foram publicados na revista médica Cancer Discovery.