Somente em 2014 o Programa Mundial de Alimentos retirou o Brasil da lista oficial de países que sofrem de desnutrição. Esse sucesso se deve em parte aos programas implantados em meados da década de 1990, em especial pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). As medidas sociais tomadas pelo governo Lula da Silva entre 2003 e 2011 também contribuíram para a redução da desnutrição.
Hoje, esses avanços estão ameaçados. Durante o primeiro ano da pandemia, as dificuldades alimentares afetaram mais da metade das famílias brasileiras, ou 117 milhões de pessoas. Cerca de 19 milhões, ou 9% da população, experimentou “grave insegurança alimentar” em 2020. Durante a recessão de 2014-2016, milhões de brasileiros perderam seus empregos e os programas de desnutrição sofreram. cortes severos. Essa degradação se acelerou quando Jair Bolsonaro aboliu o Consea em 2019. Em seguida, a alta dos preços dos alimentos, impulsionada pela queda do real, atingiu os mais pobres. Em um ano de pandemia, os preços aumentaram 15%, quase três vezes a taxa de inflação. O arroz subiu 70% e o óleo de soja 88%.
No início, a ajuda pública foi bastante generosa: em abril de 2020, o governo de Bolsonaro anunciou que as famílias pobres receberiam o equivalente a 94 euros por mês. Desde então, esse valor foi reduzido pela metade. Tendo as autoridades subestimado as necessidades, a medida acabou custando 45 bilhões, ou três vezes mais do que o esperado. No mês passado, o orçamento anual para ajuda de emergência foi reduzido para 7 bilhões. Só são elegíveis as famílias que já recebiam ajuda alimentar e aquelas com rendimentos inferiores a 85 euros mensais por pessoa. Resultado: cerca de 22 milhões de brasileiros que receberam ajuda emergencial no ano passado não receberão nada em 2021.
© The Economist – Londres 2021