Brasil, um novo modelo para bancos públicos de desenvolvimento?

Brasil, um novo modelo para bancos públicos de desenvolvimento?

A atual sequência internacional coloca o Brasil em destaque. Em 2024, o país preside o G20 e sediará a COP 30 sobre o clima em 2025. Ao mesmo tempo, a ampliação do BRICS, clube de economias emergentes do qual o Brasil é membro, chega em um momento estratégico nas discussões sobre governança global.

A reforma da arquitectura financeira internacional está entre as prioridades que o país definiu durante a sua presidência do G20. Seu presidente, Lula, parece querer chamar a atenção para a capacidade dos bancos públicos de desenvolvimento integrar os efeitos das alterações climáticas no seu financiamento, lutar contra as desigualdades e responder a crises de todos os tipos.

Graças ao trabalho de numerosos acadêmicos brasileiros, mais de 70 artigos de pesquisa analisam o papel dos bancos públicos de desenvolvimento através da experiência brasileira. Este trabalho ilustra como as instituições financeiras públicas, como a Caisse des Dépôts et Consignations em França, podem cumprir o seu mandato de desenvolvimento, garantindo ao mesmo tempo a estabilidade macrofinanceira das economias que servem.

Depois dos Estados Unidos e da Índia, o Brasil é 3ºe país do mundo com maior número de bancos públicos de desenvolvimento, principalmente por sua estrutura federal. O país tem uma rede de 21 bancos públicos locais e um banco público nacional: o “Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social” (BNDES). Publica o detalhamento de suas operações, discriminadas de acordo com a natureza dos beneficiários e sua localização. Contribui assim para avançar a nossa compreensão dos bancos públicos de desenvolvimento.

A atuação do BNDES e o lugar que ele ocupará na economia brasileira nos próximos anos serão provavelmente decisivos para a credibilidade de todos os 533 bancos públicos de desenvolvimento unidos na coalizão Finance en Commun (FiCS). A respeito disso, o evento conjunto G20/FiCS que acontece no Rio de Janeiro nos dias 20 e 21 de maio de 2024, tem como objetivo repensar o lugar dessas instituições no sistema financeiro internacional, a fim de fortalecer suas ações em prol dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e do combate ao das Alterações Climáticas.

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Uma nova fase de desenvolvimento

O BNDES é um dos maiores bancos públicos de desenvolvimento do mundo. Totaliza aproximadamente US$ 130 bilhões em ativos em 2022, ou o equivalente a 7% do produto interno bruto brasileiro. O banco financia projetos de longo prazo em todos os setores da economia, como agricultura, infraestruturas, serviços, e serve uma pluralidade de atores económicos, desde microempresas a empresas multinacionais. Para cumprir seu mandato, as operações do BNDES estão disponíveis principalmente na forma de empréstimos (67%) e através de outros instrumentos, como a aquisição de participações em empresas, garantias e crédito à exportação. Esta diversidade de atividades, clientes e instrumentos é representativa da ação dos bancos nacionais de desenvolvimento.

A história do BNDES está intimamente ligado ao contexto socioeconômico do Brasil. O banco foi criado em 1952 num contexto de intervenção deliberada do governo brasileiro na economia para atender aos seus objetivos de desenvolvimento social e econômico. Dadas as dificuldades do país no início da década de 1980 (baixa taxa de crescimento, inflação, aumento da dívida pública), a política económica brasileira tomou um rumo neoliberal, pressionando o BNDES a apoiar a privatização de empresas públicas. No início dos anos 2000, a primeira eleição do presidente Lula (Partido dos Trabalhadores) marcou uma nova fase de desenvolvimento do banco: entre 2003 e 2016, seu patrimônio aumentou seis vezes.

Diversos trabalhos enfatizam o papel anticíclico desempenhado pelo BNDES nesse período. Face à crise financeira global de 2008, tornou-se um dos bancos públicos de desenvolvimento mais intervencionistas do mundo.

Durante os 3 anos seguintes, o seu volume de compromissos aumentou mais de 25% ao ano. Essa dinâmica continuou continuamente por cerca de dez anos, tanto que sua atividade de crédito foi equivalente a quase 12% do PIB brasileiro em 2015.

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Este volume era tal que teria levou o banco central do Brasil a aumentar as taxas de juros para controlar a inflação que alimentava. O BNDES iniciou então uma desaceleração da sua atividade desde 2016, interrompida durante a crise da Covid-19, durante a qual o banco, mais uma vez, desempenhou plenamente o seu papel anticíclico.

Compromissos para a solidariedade e finanças sustentáveis

Tradicionalmente, os bancos públicos de desenvolvimento têm vocação para estimular e apoiar setores da economia geralmente excluídos dos sistemas financeiros. Em muitas economias emergentes e em desenvolvimento, as pequenas e médias empresas têm acesso limitado a fontes formais de financiamento para investir e expandir os seus negócios.

Muitos artigos têm focado no valor agregado do BNDES nesse setor. Parece que as empresas financiadas pelo banco brasileiro têm tendência a investir mais do que outros. Entre 2002 e 2016, o BNDES teria contribuído significativamente para a formação bruta de capital fixo no Brasil. Vários autores no entanto qualificar esta contribuição positiva indicando que o BNDES também financiou empresas de sucesso que poderiam ter se financiado diretamente de bancos comerciais privados. Este mecanismo é conhecido como “efeito de exclusão”.

Nos últimos anos, o BNDES viu seu mandato evoluir para integrar significativamente as questões ambientais e o financiamento de bens públicos globais. Em 2019, o banco adotou uma nova política de responsabilidade social e ambiental que integra plenamente as questões extrafinanceiras na sua estratégia e operações. No mesmo ano foi credenciado pela Fundo Verde para o Clima pelo seu compromisso de “incentivar projetos que contribuam para a redução das emissões de gases com efeito de estufa e para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas”.

O BNDES foi, portanto, o primeiro banco brasileiro a emitir, em 2017, um título verde nos mercados internacionais no valor de bilhões de dólares. Na verdade, os compromissos em termos de financiamento verde do BNDES têm aumentou 37% entre 2018 e 2022. Se a literatura concorda sobre o papel propulsor que o banco desempenha no financiamento da transição energética do Brasil, ainda existem poucos estudos sobre seus impactos no desmatamento.

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Em última análise, a experiência do BNDES nos convida a repensar a atuação dos bancos de desenvolvimento em conjunto com todas as políticas públicas. Por definição, estas instituições constituem um instrumento quase fiscal de política pública. Para compreender plenamente o seu potencial de desenvolvimento na economia, trata-se, portanto, de pensar as suas actividades em consonância com todas as políticas orçamentais, monetárias e industriais. Em geral, a investigação sobre os bancos públicos de desenvolvimento deverá ter mais em conta as interacções que estes têm com todos os intervenientes económicos públicos e privados.

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