por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) – O Ministério Público Federal brasileiro está investigando transações envolvendo a comerciante de grãos Cargill e um parceiro brasileiro depois de encontrar “irregularidades” na aquisição de terras disputadas onde a empresa norte-americana planeja construir um enorme porto fluvial na floresta amazônica.
Um porta-voz do Ministério Público Federal no estado do Pará disse que a investigação criminal foi aberta depois que dois promotores escreveram um memorando em julho, visto pela Reuters, questionando a legalidade da transação devido a supostas anomalias em documentos administrativos. O andamento da investigação criminal permanece confidencial.
“A cadeia de propriedade de transferências de terras privadas, apresentada pelas empresas para justificar a legalidade da compra e venda (…) apresentava sinais de total precariedade e ausência dos requisitos mínimos para serem considerados legais”, escreveram os promotores no memorando, relatado pela primeira vez pelo site de notícias Sumauma na segunda-feira.
Um porta-voz da Cargill disse que a investigação foi uma “surpresa”, acrescentando que o comerciante obteve o uso e posse legal de terras em Abaetetuba, no Pará, onde avalia a viabilidade de construção de um terminal de exportação de grãos.
A empresa brasileira Brick Consultoria em Gestão Limitada, que transferiu o terreno para a Cargill em data não especificada segundo os promotores, não respondeu aos pedidos de comentários.
Em 2017, a Cargill anunciou planos para investir num novo porto de 178 milhões de dólares em Abaetetuba, onde pretende transportar anualmente cerca de 9 milhões de toneladas métricas de grãos, de barcaças para navios de carga para exportação.
No entanto, famílias que vivem na área onde a Cargill planeja construir o porto afirmam que o órgão federal de reforma agrária INCRA reservou parte das terras para elas em 2005, designando-a como Zona de Assentamento Agroextrativista de Santo Afonso, de acordo com documentos judiciais.
Os promotores disseram que o INCRA e a Agência Federal do Patrimônio do Pará (SPU) deveriam ter impedido a venda e seus funcionários também deveriam ser indiciados por não fazê-lo.
O INCRA e a SPU não responderam aos pedidos de comentários.
Antes mesmo da investigação criminal, o Ministério Público Federal do Pará havia solicitado liminar suspendendo o projeto do porto fluvial, citando indícios de que a área destinada ao seu uso havia sido obtida ilegalmente “por meio de grilagem de terras”.
Um juiz ainda não se pronunciou sobre este pedido.
A Cargill, que opera três outros portos fluviais na Amazônia, disse que seus estudos de impacto ambiental para o porto aguardam análise das autoridades ambientais estaduais para licenciamento. preliminares.
“Não construímos e não construiremos um terminal até obtermos todas as licenças necessárias e consultarmos as comunidades locais”, disse a Cargill em comunicado por escrito.
($1 = 5,0658 reais)