(Muçum) “A água subiu muito rapidamente”: o ciclone que atingiu o sul do Brasil no início da semana deixou pelo menos 31 mortos, segundo o último balanço das autoridades locais de quarta-feira, enquanto se esperam mais chuvas torrenciais.
“A água subiu muito rápido, não tive tempo de guardar nada, perdi tudo”, diz Paulo Roberto Neto Vargas, 39 anos, morador de Roca Sales, onde foram encontrados seis corpos. foi encontrado pelos bombeiros.
“Ouvi gritos, pedidos de socorro […]meu vizinho estava com água até o pescoço”, continua ele.
As chuvas excepcionais e os ventos violentos dos últimos dias causaram enormes danos e muitas localidades foram literalmente submersas pelas inundações.
Dezenas de bombeiros e policiais são mobilizados para operações de resgate em condições extremamente delicadas, para acesso a determinadas áreas totalmente isoladas.
“Infelizmente recebi a confirmação de quatro novas mortes”, declarou o governador do estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ao meio-dia, durante coletiva de imprensa.
O número de mortos subiu para 21 na noite de terça-feira e para 27 na manhã de quarta-feira.
“Dada a situação, este número pode aumentar ainda mais”, disse o governador, para quem a região vive “o pior acontecimento climático da sua história”.
Mais de 52 mil pessoas em 70 municípios gaúchos foram afetadas desde segunda-feira pelas chuvas torrenciais, que provocaram inundações e deslizamentos de terra. Mais de 5.000 moradores tiveram que deixar suas casas.
“Decepcionante”
Em algumas localidades, o nível da água subiu tanto que “um grande número de pessoas ainda se abriga nos telhados das suas casas”, revelou o governador.
As equipes de resgate agora correm contra o tempo para resgatá-los, de barco ou helicóptero.
“Estamos preocupados porque há previsão de mais chuvas no final de hoje e amanhã. Os solos estão encharcados e os leitos dos rios já estão cheios”, alertou Eduardo Leite.
Pela manhã, dois ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobrevoaram áreas afetadas.
“O que vimos é triste e angustiante”, escreveu o ministro das Comunicações, Paulo Pimenta, no X (ex-Twitter).
“Até que seja possível mensurar com precisão os danos materiais, todos os nossos esforços estão focados em tentar salvar vidas. Muitas pessoas estão isoladas em áreas de risco”, acrescentou.
“Fenômenos extremos”
Entre as vítimas estava uma mulher de 50 anos que havia sido transportada de avião, mas caiu em um rio depois que o cabo ao qual ela estava presa se rompeu.
A cidade que deplorou o maior número de mortes até o momento é Muçum, uma pequena cidade de 5 mil habitantes onde foram encontrados 15 corpos na terça-feira, e cujo território foi coberto pela enchente do rio Taquari em 85%.
O Brasil foi atingido por mau tempo mortal nos últimos anos e os especialistas veem ligações com as mudanças climáticas.
“No Brasil, os ciclones não atingiram muito o continente, como acontece com mais frequência no Hemisfério Norte, mas isso é cada vez mais frequente”, explica Francis Lacerda, pesquisador do Laboratório de Mudanças Climáticas no Brasil. do Instituto de Agronomia de Pernambuco.
“São fenômenos extremos porque a quantidade de energia liberada é agravada pelo efeito estufa”, explica.
Em Junho, um ciclone matou 16 pessoas na mesma região. Em fevereiro, inundações e deslizamentos de terra causados por chuvas torrenciais no estado de São Paulo (sudeste) mataram pelo menos 65 pessoas.
No Brasil, o efeito devastador desses fenômenos climáticos é agravado pela urbanização descontrolada, com muitas pessoas vivendo em moradias precárias nas encostas.
Cerca de 9,5 milhões dos 203 milhões de habitantes do maior país da América Latina vivem em áreas em risco de inundações ou deslizamentos de terra.