Este texto faz parte da seção especial Pesquisa: questões climáticas
A comunidade científica de Quebec pode contar com pesquisadores de todo o mundo. A brasileira Bruna Rego de Vasconcelos é uma dessas acadêmicas que decidiu continuar seu trabalho em Quebec. Seu objetivo ? Fazer com que a província se livre dos seus combustíveis fósseis de uma vez por todas.
Quando ela pousou em Quebec pela primeira vez, em janeiro de 2017, duas coisas impressionaram a sul-americana: a quantidade de neve no solo e as ligações entre a comunidade de pesquisa de Quebec e o setor industrial. Rapidamente, a recepção calorosa que recebeu da Universidade de Sherbrooke (UdeS) a fez esquecer os perigos do clima.
“Gostei muito de como a pesquisa foi feita aqui”, lembra ela. “A colaboração entre os setores industrial e universitário permite desenvolver soluções para problemas concretos. No Brasil, por exemplo, o mundo acadêmico e o mundo industrial não se comunicam. »
Seis invernos e muita remoção de neve depois, o doutor em engenharia de processos e ambiental dedica-se agora à pesquisa de novas formas de produzir biocombustíveis a partir de materiais renováveis.
“Desde o meu doutorado, sempre trabalhei no mesmo grande tema da conversão de gases de efeito estufa e da produção de combustíveis limpos”, explica ela em um francês impecável.
Reciclar CO2
Depois de desenvolver sua expertise no Brasil e na França por quase uma década, a pesquisadora de pós-doutorado se especializou na tecnologia Power-to-X. Uma de suas aplicações é usar CO2 (o principal gás com efeito de estufa) e electricidade renovável para produzir combustíveis verdes.
A empresa islandesa Carbon Recycling International, referência na área, utiliza este processo para criar metanol verde desde 2012. Para Bruna Rego de Vasconcelos, este novo método é um grande passo para a descarbonização, porque reduz a dependência de combustíveis fósseis.
“A vantagem destes combustíveis verdes (também chamados sintéticos) é que podemos utilizá-los para substituir os combustíveis fósseis”, acrescenta. Além disso, estes novos combustíveis poderiam ajudar [à décarboner] certos sectores como a aviação, que neste momento não podem contar com a electrificação. »
Power-to-X, um campo relativamente recente, mas muito mais desenvolvido na Europa, especialmente na Alemanha, é uma das chaves para a transição energética, segundo ela. Mas atenção, o pesquisador quer ser pragmático.
“Não é uma solução milagrosa, mas um dos ingredientes para uma transição bem-sucedida”, acrescenta. Além disso, os obstáculos a esta tecnologia ainda são evidentes, tais como os custos de produção, o que significa que os combustíveis verdes não podem ter preços competitivos com os combustíveis fósseis. As indústrias ainda não estão preparadas para investir em investigação e desenvolvimento nesta área. É muito sobre dinheiro. »
Longe da vista, mas perto do coração
Embora Bruna Rego de Vasconcelos tenha deixado seu país natal há mais de dez anos, é óbvio que o Brasil nunca saiu de sua cabeça e de seu coração. Ela admite que a distância da família e dos amigos é o aspecto mais complicado de sua vida em Quebec.
“O mais difícil é estar longe de casa”, diz ela sem hesitação. Mas adoro muito o trabalho que faço na Universidade de Sherbrooke, me sinto realizada profissionalmente e pessoalmente, Quebec se tornou minha segunda casa. Volto ao Brasil uma vez por ano, isso também ajuda muito. »
Quando questionado sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, conhecido entre outras coisas pela aversão a grupos ambientalistas e pela aceleração do desmatamento da Amazônia durante seu mandato, o sorriso do simpático pesquisador desaparece pela primeira vez na entrevista.
“Foram quatro anos de horror, na verdade”, ela suspira. O governo mudou, veremos se o país consegue se recuperar nos próximos anos. O Brasil é assim, é um país lindo, com imenso potencial ambiental e energético, mas muito instável politicamente. Na investigação, os investimentos nunca estão garantidos. »
Segundo Bruna Rego de Vasconcelos, é precisamente a estabilidade política e social do Canadá que o torna um destino popular para investigadores dos quatro cantos do planeta. Condições que poderão revelar-se decisivas face ao desafio titânico que representa a transição energética.
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