Pesquisadores brasileiros identificaram níveis particularmente alarmantes de contaminação por mercúrio entre membros do povo indígena Yanomami que vivem perto de áreas ilegais de mineração de ouro na Amazônia, de acordo com um estudo publicado quinta-feira.
Liderado principalmente pela organização de saúde pública Fiocruz, o estudo coletou amostras de cabelo e saliva de 293 indígenas de nove aldeias próximas ao rio Mucajaí, no coração da floresta tropical, no norte do estado de Roraima.
Esta zona é uma das mais afetadas pela exploração de ouro na reserva Yanomami, a maior do Brasil, onde vivem cerca de 29 mil indígenas, num território tão vasto como Portugal, perto da fronteira com a Venezuela.
Os cientistas encontraram vestígios de mercúrio em todas as amostras colhidas. Em 84% dos casos, o nível de contaminação foi superior ao limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou seja, dois microgramas por grama de cabelo.
E 10,8% das amostras apresentaram mais de seis microgramas por grama de cabelo, nível “que requer atenção médica especial”, segundo estudo realizado em outubro de 2022.
“Esta situação de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de doenças entre as crianças que vivem na região, e pode promover problemas clínicos mais graves devido à exposição crónica ao mercúrio, particularmente entre crianças menores de cinco anos”, explica o investigador Paulo Basta num comunicado de imprensa. .
Mais de 30% dos indígenas sofriam de doenças nervosas degenerativas – ligadas à contaminação por mercúrio segundo os cientistas – e 55,2% das crianças apresentavam déficits cognitivos.
“Nossos filhos nascem doentes, nosso povo morre por causa do garimpo”, lamenta Dario Vitorio Kopenawa, vice-presidente da associação Hutukara Yanomami, que reúne lideranças comunitárias deste povo indígena.
Em janeiro de 2023, logo após seu retorno ao poder para um terceiro mandato, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva declarou estado de emergência sanitária na reserva indígena Yanomami, cujo território há anos é regularmente invadido por garimpeiros.
Os líderes indígenas acusam os garimpeiros de violar e matar membros da sua comunidade, ao mesmo tempo que os privam de um dos seus principais meios de subsistência, a pesca, ao poluir os rios com mercúrio, que utilizam para separar o ouro dos sedimentos.
Soldados foram mobilizados pelo governo do presidente Lula para desalojar cerca de 20 mil garimpeiros presentes na reserva, mas membros da associação Hutukara Yanomami acreditam que o problema está longe de ser resolvido.