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Covid-19: por que tomar uma vacina não é apenas ‘meu problema’, como diz Bolsonaro – 17/12/2020

“Não vou tomar vacina, ponto final. Minha vida está em risco? O problema é meu”, disse o presidente Jair Bolsonaro (sem festa) na última terça (15).

Tal postura é cada vez mais frequente entre os brasileiros, segundo o instituto Datafolha.

Uma pesquisa realizada no início de dezembro mostra que 22% dizem que não serão vacinados. Em agosto, era de 9%. Em ambas as pesquisas, a maioria disse que planeja tomar a vacina, mas o percentual caiu de 89% para 73%.

Se a vacinação contra o covid-19 não é realmente obrigatória, como argumenta Bolsonaro – tema que o Supremo Tribunal Federal julga neste momento -, a imunização será, de fato, uma decisão individual.

Mas a recusa do presidente e de outros cidadãos em fazê-lo é uma postura egoísta, que coloca em risco a saúde de outras pessoas e prejudica gravemente os esforços para acabar com a pandemia, afirmam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

“Quem diz que não vai ser vacinado porque é uma decisão individual fala por ignorância. A vacinação não é e nunca foi uma preocupação individual”, diz a infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Por que sua vacinação protege outras pessoas

O médico explica que o objetivo de uma vacina é fornecer proteção contra vírus ou bactérias a uma parcela suficiente da população para evitar que a ameaça continue a se espalhar.

Quanto maior o número de pessoas vacinadas, mais fácil é controlar a propagação de uma doença. Mas se poucas pessoas forem vacinadas, ele se espalha com mais facilidade.

“Isso é diferente do câncer, por exemplo. Se eu não me tratar, só vou ser prejudicado, porque vou morrer mais cedo. Mas a decisão de me vacinar tem impacto na saúde pública”, diz Stucchi.

A porcentagem de pessoas que precisam ser vacinadas para alcançar a chamada imunidade coletiva ou de rebanho – bloqueando a propagação de um vírus ou bactéria e prevenindo epidemias – varia.

Isso depende da facilidade com que o patógeno é passado de uma pessoa para outra e também da eficácia da vacina, ou seja, da proporção de pessoas que são protegidas ao serem imunizadas.

No caso de sarampo, doença altamente infecciosa, essa taxa deve ser de 95%, explica o infectologista Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Infecciosas e diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Rio de Janeiro.

Para covid-19, esse índice ainda não é conhecido, pois resta saber se a eficácia dos estudos será confirmada pela vacinação em massa e por quanto tempo dura a imunidade conferida dessa forma.

Mas estima-se que será necessário vacinar entre 70% e 80% da população para diminuir a circulação do coronavírus e acabar com a pandemia.

“Temos que lembrar que sempre haverá uma parte da população que não pode ser vacinada, como as grávidas, para as quais hoje não é recomendado, que tem alergias graves e outras contra-indicações”, diz Chebabo.

Mesmo para aqueles que não podem ser vacinados, a imunização em massa será essencial para evitar que essas pessoas sejam infectadas. O mesmo vale para quem não tem uma resposta ideal à vacina.

“Uma postura como a do presidente é uma atitude egoísta, de quem só pensa em si mesmo e não em proteger quem está ao seu redor”, diz o infectologista.

Chebabo também diz que a vacinação será importante até mesmo para pessoas que já tiveram covid-19, como o Bolsonaro, porque há cada vez mais casos confirmados de pessoas que foram infectadas mais de uma vez, alguns até pior do que antes.

Os cientistas ainda não têm certeza de quanto tempo dura a imunidade adquirida por ter a doença. Portanto, uma parte dessas pessoas, ou mesmo todas elas, ainda pode ser vulnerável ao coronavírus.

“A recomendação é que todos sejam vacinados”, diz Chebabo.

Pandemia acabará apenas com a vacinação em massa

Além disso, nossa experiência com a pandemia de covid-19 mostra que é improvável que ela seja controlada naturalmente ou apenas com medidas de isolamento ou distanciamento social.

O epidemiologista Antonio Augusto Moura da Silva, professor do Departamento de Saúde Pública da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), cita o exemplo de Manaus.

Um estudo publicado na revista Science estima que, em outubro, 76% da população da capital amazonense já havia se infectado com o novo coronavírus.

No entanto, o número médio de novos casos diários continua alto e os hospitais da cidade voltaram a ficar lotados nas últimas semanas.

“Mesmo com uma taxa tão alta de pessoas infectadas, a doença continua a se espalhar e, sem vacina, a taxa em qualquer lugar tende a subir até chegar a 80% ou 90%, a menos que haja uma imunização massiva para bloquear isso antes”, diz Silva.

O epidemiologista lembra que os dados científicos das vacinas publicados até agora mostram que elas têm muito boa eficácia e segurança.

Para Silva, são a “maior esperança” que temos para alcançar a imunidade coletiva, pois estudos mostram que algumas das vacinas contra o covid-19 produzem mais anticorpos e anticorpos mais eficazes do que aqueles que são gerados quando alguém fica naturalmente doente.

Raquel Stucchi concorda que a imunização será essencial para acabar com a pandemia.

“Outras medidas têm impacto importante, mas o conhecimento que adquirimos no ano passado mostra que não há outra estratégia além da vacinação que conseguirá fazer isso”, diz o infectologista.

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