De volta a São Paulo, João doria Perguntou “desculpas a quem imaginou que eu estava saindo da cidade ou o estado de São Paulo, após medidas restritivas, para desfrutar de uma vida confortável e com menos restrições em Miami.”
Quem comete um erro e não dá o braço para torcer comete dois erros. Assim, desculpas são sempre melhores do que negligência. Na política, no entanto, quando o erro é primário enquanto o vôo cai e volta de Doria para Miami, a autocrítica não apaga o que aconteceu.
O fiasco fica registrado na história do político que o comete como uma tatuagem, cujos contornos os adversários terão o cuidado de destacar em momentos cruciais.
Doria disse que “há muitos meses” marcou “duas conferências na Flórida”. Em combinação com Bia, sua esposa, ele encaixou as palestras em um descanso de dez dias. Beleza.
No entanto, para cada forma de fazer algo errado, sempre existem dezenas de desculpas para não fazê-lo. No caso de Doria, bastaria: a intensificação da pandemia.
Dias atrás, o grão-tucano Fernando Henrique Cardoso afirmou que Doria terá de “nacionalizar” para ter alguma chance na corrida presidencial de 2022. É verdade. Há, porém, um desafio anterior: o governador precisa reconquistar a cidade de São Paulo, talvez o estado.
Na recente eleição municipal, o tucano Bruno Covas foi reeleito prefeito da capital paulista, escondendo Doria. E tinha seus motivos: segundo o Datafolha, 61% dos eleitores paulistas disseram que não votariam em um candidato apoiado por Doria.
Deve-se à rejeição de outra tatuagem registrada na biografia do personagem: o abandono do mandato do prefeito pela metade, para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Doria foi eleito governador. Mas a dor do eleitorado da capital persiste.
O descanso é um sacrossanto direito para qualquer pessoa. Mas um governador não pode voar para o exterior como turista depois de fechar o estado em casa. Sob alerta vermelho, Doria deve descansar atrás das paredes de sua mansão.
A residência do governador estava faltando uma criança. Qualquer menino de cinco anos teria gritado ao presenciar a partida de Doria e Bia: “Lá em cima! Desfaça as malas imediatamente. Isso não faz sentido. Vai ser ruim.”
Respeito pela comunidade é algo que deveria ser natural para um político que afirma chegar ao Planalto – natural como a escama de um peixe. A falta de sensibilidade produz tatuagens indeléveis.