Iure Pontes Vieira, um francófilo apaixonado e especialista em direito tributário em São Paulo, nos fala sobre sua ligação com a França e o atual contexto econômico do Brasil. Conheça :
M Pontes Vieira, você estudou na Sorbonne em Paris, onde obteve o doutorado em direito tributário, pode nos contar sobre sua viagem entre a França e o Brasil?
Primeiro, nasci em Fortaleza onde aprendi direito. Resolvi então ir para a França continuar meus estudos e obtive dois mestrados e um doutorado em direito tributário. Em 2011, voltei ao Brasil e me instalei em São Paulo com minha esposa e minha filha de 5 anos.
Em Paris, publiquei um livro após o doutorado, em uma conhecida editora de direito, a LGDJ. A tese de doutorado incide sobre o conceito de valor em direito tributário: o custo das mercadorias nas transações; os resultados de tais operações, a origem do imposto, etc. Comecei a partir de elementos filosóficos, relativos aos valores de uma sociedade. Em seguida, abordei a questão econômica, jurídica e tributária. Este trabalho foi premiado com um prémio atribuído pela Comissão Europeia, em parceria com a Associação Europeia de Professores de Direito Fiscal. Estou muito feliz com isso, porque eu estava representando a França, de certa forma.
Foi uma retribuição à França pelo que ela me ofereceu, como estudante.
Não conheço a situação hoje, mas naquela época os brasileiros eram bem-vindos no exterior. É uma espécie de soft power, conquistas subjetivas dos brasileiros que os franceses adoram. Um dia peguei o trem para Genebra e tive que mostrar meu passaporte na alfândega. Nesse momento, a senhora, muito séria, me disse: “Você é brasileiro! Ela então sorri para mim e começa a dançar o samba.
Que diferenças você notou entre a França e o Brasil em termos de educação?
A grande diferença entre a França e o Brasil, na minha opinião, é o acesso às bibliotecas municipais. Quando estive em Paris, tive que progredir tanto no aprendizado da língua francesa quanto nos estudos de direito; na biblioteca, eu era sempre o primeiro a entrar e o último a sair, tinha que estudar o dobro, para absorver todo esse conhecimento.
Antes da abertura da biblioteca, vi longas filas de pessoas esperando no frio, para aprender, foi o que aprendi com a cultura francesa. Como na ideia kantiana, quando você mora no país, você sabe o que a língua lhe diz, a língua lhe diz sobre a cultura do país. E dou muito valor à educação para o desenvolvimento de um país. Educação é mobilidade social e todos sabem disso na França. Ao lado da Sorbonne, onde eu estudava, havia a biblioteca Sainte Geneviève, fiquei fascinado com essa biblioteca, essa atmosfera. Claro que existem bibliotecas municipais no Brasil, mas isso não faz parte do dia do aluno.
Em 2013, você criou seu próprio escritório de advocacia tributária em São Paulo. Desde então, houve uma crise econômica e política, a pandemia, você pode nos dar os elementos importantes para uma empresa francesa que deseja se instalar hoje no Brasil?
No Brasil, a lei tributária, os impostos, é uma questão fundamental. Primeiro, o Brasil é um país federal, temos impostos para a federação, os estados e os municípios. Portanto, os impostos são diferentes se você faz negócios no Rio de Janeiro ou em São Paulo. A complexidade das leis é outro aspecto das dificuldades do país.
Dizem que quando você chega no Brasil tem que ter um bom advogado e um bom contador.
Há uma coisa interessante sobre a tributação no Brasil: todo o sistema é eletrônico; para a declaração de imposto de renda, para uma fatura, basta conectar-se ao aplicativo da prefeitura. Para o Brasil, isso é um grande trunfo.
Por fim, o setor que mais se desenvolve atualmente é o investimento em tecnologia. Os brasileiros adoram tecnologia e estão adotando rapidamente novas formas de se comunicar e consumir. Muitas pessoas usam, por exemplo, o WhatsApp, para pequenas empresas. O Brasil abriga muitas empresas desse ramo. Como não existe mais a barreira para o transporte de mercadorias, é uma ótima oportunidade para fazer negócios no Brasil.
Como você vê a evolução da tributação no Brasil para os próximos anos?
Atualmente há debates no Brasil, propostas de reforma tributária e acho que o próximo governo vai fazer uma reforma no consumo. Sobre o que é isso ? Na França, você tem o IVA, o mesmo imposto sobre serviços e mercadorias. No Brasil, os impostos são diferentes, cada estado tem regras específicas, mesmo que exista uma lei federal. O objetivo é harmonizar todos esses impostos, ou mesmo reduzi-los. Existem 5 impostos diferentes no Brasil e a ideia é fazer apenas dois. 2023 será um bom ano para os negócios, porque sairemos da crise sanitária e acho que o país vai recuperar a estabilidade política.