A Polícia Federal brasileira suspeita que colaboradores de Jair Bolsonaro tenham revendido presentes recebidos do exterior, em especial joias, para o“enriquecimento ilícito” do ex-presidente de extrema direita, a Agence France-Presse soube na sexta-feira, 11 de agosto, de uma fonte judicial.
A defesa de Bolsonaro negou categoricamente qualquer irregularidade. O ex-presidente “nunca se apropriou ou se apropriou indevidamente de qualquer bem público”disse seus advogados no site de notícias G1.
Elementos do inquérito policial foram publicados em julgamento do desembargador Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para justificar mandados de busca e apreensão realizados nesta sexta-feira em residências de ex-assessores de Bolsonaro. “As evidências coletadas mostraram [l’existence], durante a presidência de Jair Bolsonaro, de uma rede para desviar mercadorias de alto valor que lhe eram oferecidas”podemos ler neste julgamento do magistrado. “Além de permitir enriquecimento inadmissível do Presidente da República (…)é possível que o chefe de estado brasileiro tenha sido cooptado por nações estrangeiras por meio desses ativos”dizem os investigadores.
Eles também relatam ativos colocados em “uma mala transportada no avião presidencial em 30 de dezembro”quando Bolsonaro deixou o Brasil para ingressar nos Estados Unidos dois dias antes da posse de seu sucessor de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que o derrotou nas eleições presidenciais de outubro.
Entre esses presentes de estado, duas esculturas, uma em forma de barco e outra em forma de palmeira, oferecidas pelo governo do Bahrein durante uma visita de estado em 2021, além de joias masculinas oferecidas pela Arábia Saudita, incluindo uma relógio e uma caneta-tinteiro da marca de luxo suíça Chopard.
Conjunto de diamantes
Um dos suspeitos de revender esses presentes é Mauro Cid, ex-ajudante de Jair Bolsonaro, que está preso desde maio. Ele foi preso em conexão com outro processo, por suposta falsificação de atestados de vacinação contra a Covid-19. Segundo os investigadores, Mauro Cid mencionou em uma mensagem de áudio “$ 25.000 em dinheiro” que seriam destinados ao ex-presidente após a venda de determinadas mercadorias.
O escândalo de presentes de países estrangeiros para Jair Bolsonaro estourou em março, quando o jornal Estadão de S. Paulo revelou que altos funcionários tentaram contrabandear joias doadas pela Arábia Saudita, sem primeiro declarar. As joias em questão, incluindo um conjunto de diamantes supostamente destinados à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foram apreendidos pela alfândega em outubro de 2021. Mas os investigadores relatam indícios de que muitos outros presentes do Estado teriam sido desviados.
De acordo com o Tribunal de Contas do Brasil, apenas presentes “de natureza altamente pessoal ou de valor monetário mínimo” podem ser retidos pelo Chefe de Estado no final do seu mandato. Em abril, Bolsonaro foi ouvido pela Polícia Federal no contexto do caso da joalheria saudita e negou qualquer irregularidade.
Em junho, Jair Bolsonaro foi condenado a oito anos de inelegibilidade por “abuso de poder”por causa de “falso” informações que ele divulgou sobre o sistema de votação eletrônica antes de sua derrota nas urnas de 2022.