Em português, “Chumbo” significa chumbo. Inspirado na história de sua família, Matthias Lehmann narra a modernidade do Brasil, de 1930 a 2003, com foco nos anos de chumbo da ditadura brasileira.
Este livro é quase tão monumental quanto o país de que trata. Vale lembrar que o Brasil, em área, é mais de 15 vezes maior que a França. E no que diz respeito à história contemporânea, o nosso Maio de 68 e as nossas mudanças constitucionais aparecem como simples sobressaltos, ao lado dos repetidos golpes de Estado, do outro lado do oceano.
Um livro grande, rico e pesado como o Brasil
É essa história movimentada que Matthias Lehmann conta, da década de 1930 ao início dos anos 2000, sobre a vida de duas famílias de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. Duas famílias com destinos cruzados, das quais acompanharemos algumas personagens, desde a infância até à velhice.
Um pertence à grande burguesia industrial, branca, empreendedora e gananciosa, reacionária, sem qualquer consideração pelos trabalhadores que dirigem as suas pedreiras e fábricas. Para este, o autor inspirou-se na sua própria família e, em particular, nos seus tios, dois irmãos com origens radicalmente diferentes. Um deles era um escritor famoso em seu país. A outra família, cujo caminho seguimos neste Brasil em plena revolução modernista, simboliza a classe trabalhadora, que aspira à mudança e que acabará por levar o atual presidente Lula ao poder.
Sobre tudo, Chumbo ilustra a questão do rebaixamento. Aqui, as neuroses familiares ecoam as de todo o país.
“Sem chorar pelo destino de uma família burguesa, como a minha, que entrou em declínio ao longo do século XX, observo como o processo alimentou neuroses e conflitos familiares tendo como pano de fundo uma história política atormentada.”
o autor, Matthias Lehmannem françainfo
O que todos sabemos sobre o Brasil – a religião do futebol, a religião em geral, a música languidamente ritmada que cativa o mundo inteiro, a arquitetura – tudo isso fica em segundo plano. Matthias Lehmann retrata principalmente aspectos que ignoramos: o cotidiano, a relação com a natureza, as relações sociais.
Quatro anos de trabalho, mais de 360 páginas, desenhos como tantas xilogravuras, dezenas de milhares de hachuras…
Chumbopublicado por Casterman.