O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, vetou na quinta-feira pontos-chave de uma polêmica lei que flexibiliza as regras sobre pesticidas no país, um gigante agrícola e o maior consumidor mundial de produtos agrotóxicos para proteção de plantas.
Após consulta aos ministérios competentes, o presidente decidiu vetar determinadas disposições, a fim de garantir uma boa integração entre necessidades de produção, saúde e equilíbrio ambiental.
Lula vetou assim 14 seções de uma dezena de artigos da lei que pretendiam facilitar a certificação de novos agrotóxicos e concedeu maiores poderes de decisão ao Ministério da Agricultura.
Mas, de acordo com Paz verde, itens vetados não são suficientes para garantir que a população evite alguns dos aspectos mais prejudiciais
da lei.
EU'ONG da defesa ambiental castigada em um comunicado de imprensa um projeto de lei que colocará mais agroquímicos tóxicos na alimentação dos brasileiros e poluirá ainda mais o meio ambiente
.
O agronegócio, um dos principais motores da economia brasileira, segue um modelo produtivista, cujo pilar é o uso intensivo de agrotóxicos. O país consumiu 719.507 toneladas em 2021, ou 20% do total comercializado mundialmente, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Após mais de vinte anos de polêmica, o texto foi aprovado pelo Senado no dia 28 de novembro, com apenas um voto contrário.
A lei do veneno
de acordo com seus detratores
Na pauta da Câmara dos Deputados desde 1999, foi recolocado em pauta em 2022 pelos deputados que defendem os interesses do agronegócio – grupo de pressão mais influente no Parlamento – com o apoio do presidente da extrema direita do vez, Jair Bolsonaro, fervoroso defensor do setor.
Apelidado lei do veneno
por seus detratores, o texto foi objeto de intensas negociações entre senadores e o governo do presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.
O agronegócio, um dos principais motores da economia brasileira, segue um modelo produtivista, cujo pilar é o uso intensivo de agrotóxicos. (Foto de arquivo)
Foto: Reuters/Ueslei Marcelino
Se o governo conseguisse manter o prazo agrotóxico
que os deputados substituíram pelas palavras pesticida
E produto fitossanitário
considerada mais neutra, não impediu uma mudança importante: certos pesticidas, em particular produtos com comprovada natureza cancerígena ou mutagénica ou que causam danos ao ambiente, deixarão de ser automaticamente proibidos.
A partir de agora, a proibição abrangerá produtos que apresentem um risco inaceitável
para os seres humanos ou para o ambiente, critério considerado demasiado vago pelos opositores do texto.
Será aplicada uma análise de risco, mas não sabemos como será feita nem quem será o responsável por ela.
indicado aoAFP Suely Araujo, ex-presidente da Agência Brasileira de Proteção Ambiental (IBAMA).
Além disso, com a nova lei, os agrotóxicos destinados exclusivamente à exportação poderão ser produzidos no país sem necessidade de autorização.
A questão dos pesticidas também tem uma dimensão internacional. A sua utilização massiva pelos produtores brasileiros é um dos argumentos defendidos por aqueles que, na Europa, se opõem a um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o bloco sul-americano Mercosul, do qual o Brasil é o peso pesado.