A ascensão da agricultura brasileira tem sido acompanhada por um fortalecimento das ferramentas de gestão de risco, particularmente através do seguro agrícola. Mas a equação económica do sistema ainda não está resolvida.
A importância econômica e estratégica da agricultura brasileira cresce ano após ano. Mas neste país continental, com cada vez mais riscos climáticos, a equação para a viabilidade do seguro torna-se mais complicada a cada ano. Porque o Brasil, como muitas outras potências agrícolas, subsidia o custo dos prémios de seguros através de um programa nacional. O orçamento dedicado é decidido anualmente e divulgado por ocasião do lançamento do “Plano Safra”, equivalente local do Pac. Mas enquanto o Plano Safra 2023-2024 foi divulgado no final de junho, não há vestígios do valor dos subsídios ao seguro, ainda em negociação.
A conta está ficando mais pesada
Inicialmente celebrados em proporções confidenciais, os contratos de seguros agrícolas multiplicaram-se nos últimos anos. Embora o seu número mais que tenha duplicado entre 2019 e 2021, atingindo 214.000 assinaturas, caiu em 2022 para 125.000. A causa principal é o forte aumento dos custos para os agricultores, que o governo tem dificuldade em apoiar. Porque a conta dos subsídios continua a aumentar. Ainda nos 440,5 milhões de reais (cerca de 80 milhões de euros) em 2019 ultrapassou os 1,1 mil milhões em 2022 (cerca de 210 milhões de euros). E para este ano, a CNA, principal sindicato agrícola do país, e deputados simpatizantes do agronegócio, estão a negociar com o governo para tentar chegar aos 3 mil milhões de reais (cerca de 550 milhões de euros).
Há algumas semanas, Jônatas Pulquério, diretor do departamento de gestão de risco do Ministério da Agricultura, tentou tranquilizar sobre o apoio público. “Nos últimos anos temos vivido acontecimentos cada vez mais graves, como secas e geadas, principalmente na região Sul, razão pela qual o governo continuará a incentivar a subscrição de seguros rurais”, prometeu.
As seguradoras jogaram a toalha
No outro extremo da cadeia, são as compensações que avançam, com um salto de 47,1% entre 2021 e 2022 para 10,5 mil milhões de reais (2 mil milhões de euros). Em contacto direto com o setor, as seguradoras privadas lutam para rentabilizar as suas apólices de seguro. Ainda este ano, 2 das 17 seguradoras autorizadas não quiseram continuar esta actividade.
Outra equação importante a resolver para o país: o descompasso geográfico entre os seguros contratados e as perdas de colheitas observadas. Um estudo recente mostrou assim que o Nordeste, que é a região mais vulnerável do país, com secas recorrentes em particular, é também aquele que solicita menos subsídios de seguros governamentais.
Diante de todas as dificuldades do seguro rural, o Supremo Tribunal de Justiça organizou um seminário em junho passado para tentar analisá-las. O ministro Ricardo Villas Boas Cuevo resumiu na ocasião: “há indícios de um grande desequilíbrio no setor que pode prejudicar a própria sustentabilidade do agronegócio brasileiro”.
Benoit Dévault