Um esboço dos 60 anos do Brasil

Um esboço dos 60 anos do Brasil

Mergulhe longamente na história recente do Brasil. Uma verdadeira imersão no preto e branco assinada por um autor franco-brasileiro que levou três anos e meio para refinar esta obra que, se não é um livro de história, tem o mérito de apresentar um panorama fiel e bastante abrangente da evolução do uma sociedade em rápida mudança num século XX revolucionário em muitos aspectos.

A história começa em 1937, na esteira do rico empresário Oswaldo Wallace, na região de Minas Gerais. O homem sabe como fazer seu negócio prosperar. Autoritário, sem escrúpulos com os seus trabalhadores e menos ainda com os sindicalistas, o homem não se deterá perante nada para manter o seu negócio a funcionar.

Com sua esposa, ele tem cinco filhos. três meninas e dois meninos. Estes são os dois personagens que ocuparão o primeiro plano desta saga. Os dois filhos, Severino e Ramires, têm apenas um ano de diferença, mas tudo se opõe a eles. O primeiro, voluntariamente silencioso, retraído, irá gradualmente se mover para a esquerda. Tornou-se jornalista e depois escritor. A segunda, prepotente e violenta, aproxima-se naturalmente dos círculos militares e de extrema-direita que exercerão o poder autoritário durante os “anos de chumbo” (“chumbo”, em português) que marcarão a ferro quente a história deste país. até hoje.

Pequena e grande história

Matthias Lehmann, brasileiro de mãe (“uma mulher que nunca escondeu a sua “sauda”, essa falta do país, ao longo da nossa educação”ele sorri) se inspira livremente na jornada de sua família para contar a história do país.

Uma história em quadrinhos em preto e branco com mais de 350 páginas repleta de inventividade, referências históricas, políticas e gráficas. “O Brasil sempre foi terra de criação artística, referência em design”explica Matthias Lehmann, que insiste no lado ficcional de sua obra. “Não sou historiador. Não tenho a pretensão de escrever a história recente do Brasil. É uma história bastante livre em que certos personagens são inspirados na minha família, no que minha mãe nos contou, nos meus encontros durante minhas visitas ao Brasil “.

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Os destinos dos dois protagonistas se cruzam e se recruzam numa forma de vassoura espontânea e incontrolável, levados pelo ritmo sustentado de uma sociedade brasileira tão variada tanto étnica quanto politicamente. Excessivo também.

“Eu sabia o que queria contar, mas senti, ao assinar o contrato deste livro, que estava embarcando em algo muito especial. Originalmente, assinei uma história de 150 páginas, pensei que ficaria um pouco apertado. rapidamente entendi que seria impossível caber nesta paginação”, sorri o autor que mais que duplicou o número de páginas anunciadas. Deve ser dito que esta história em quadrinhos está terrivelmente documentada. A leitura desta obra permite-nos compreender as revoluções pelas quais este país passou ao longo dos anos. Leva-nos tanto às grandes cidades como aos campos remotos. Uma visão bastante completa deste país longe de imagens de postais e de atalhos fáceis. Uma leitura fascinante que muito deve ao trabalho monástico de um autor que investiu de corpo e alma nesta história que lhe era particularmente cara.

Uma quantidade legível de informações

As páginas, de formato bastante compacto, contêm regularmente mais de quinze caixas com texto bem fornecido, sem que a legibilidade seja alterada. Um verdadeiro feito gráfico renderizado em um desenho aparentemente simples, mas terrivelmente construído, eficaz, preciso e detalhado.

Matthias Lehmann oferece-nos um olhar inteligente e intransigente sobre um país fascinante marcado por uma profunda polarização da sociedade, um fenómeno que afecta também toda a região sul-americana. “Politicamente, é isso que também está acontecendo na França”explica o autor, franco-brasileiro, evocando tensões direita-esquerda.

–> ★ ★ ★ Chumbo | Quadrinhos | Matias Lehmann | Casterman, 358 páginas, € 29,95. Digitais 20€

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