Um julgamento de um juiz do Supremo Tribunal Federal evoca a existência durante a presidência de Jair Bolsonaro “de uma rede para desviar mercadorias de alto valor que lhe foram oferecidas”.
Os valores seriam destinados ao “enriquecimento ilícito” de Jair Bolsonaro. A Polícia Federal brasileira suspeita que colaboradores do ex-presidente de extrema-direita tenham revendido presentes recebidos de países estrangeiros, em particular joias, soube esta sexta-feira a AFP junto de fonte judicial.
Elementos do inquérito policial foram publicados em acórdão do desembargador Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para justificar mandados de busca e apreensão realizados nesta sexta-feira em residências de ex-ajudantes de campo de Jair Bolsonaro.
“As provas colhidas mostraram (a existência) durante a presidência de Jair Bolsonaro, de uma rede para desviar bens de alto valor que lhe eram oferecidos”, pode-se ler neste acórdão do magistrado.
“Além de permitir enriquecimento inadmissível do presidente da República (…), é possível que o chefe de Estado brasileiro tenha sido cooptado por nações estrangeiras por meio desses bens”, acreditam os investigadores.
Um ex-ajudante de campo registrado
Também relatam mercadorias colocadas em “uma mala transportada no avião presidencial em 30 de dezembro”, quando Jair Bolsonaro deixou o Brasil para ingressar nos Estados Unidos, dois dias antes da posse de seu sucessor de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que o derrotou em a eleição presidencial de outubro.
Entre esses presentes de estado, duas esculturas, uma em forma de barco e outra em forma de palmeira, oferecidas pelo governo do Bahrein durante uma visita de estado em 2021, além de joias masculinas doadas pela Arábia Saudita, incluindo uma relógio e uma caneta-tinteiro da marca de luxo suíça Chopard.
Um dos suspeitos de revender esses presentes é Mauro Cid, ex-ajudante de Jair Bolsonaro, que está preso desde maio. Ele foi preso em conexão com outro processo, por suposta falsificação de atestados de vacinação contra a Covid-19.
Segundo os investigadores, Mauro Cid mencionou em uma mensagem de áudio “25 mil dólares em espécie” que seriam destinados ao ex-presidente após a venda de determinadas mercadorias.
Joias apreendidas na alfândega
O escândalo dos presentes de países estrangeiros para Jair Bolsonaro estourou em março, quando o jornal O Estado de S. Paulo revelou que altos funcionários tentaram contrabandear joias dadas pela Arábia Saudita, sem declarar ao prior.
As joias em questão, incluindo um conjunto de diamantes que se acredita ser da primeira-dama Michelle Bolsonaro, foram apreendidas pela alfândega em outubro de 2021. Mas os investigadores relatam evidências de que muitos outros presentes do estado foram desviados.
De acordo com o Tribunal de Contas da União, apenas presentes “de caráter altamente pessoal ou de valor monetário mínimo” podem ser retidos pelo chefe de Estado ao final de seu mandato. Em abril, Jair Bolsonaro foi ouvido pela Polícia Federal no caso da joalheria saudita e negou qualquer irregularidade.