O projeto de lei que visa validar a tese do “marco temporal” foi aprovada às pressas pela Assembleia Nacional em Maio passado. Trata-se de questionar a demarcação de territórios reservados aos povos indígenas no Brasil, ao impor um limite temporal: todos os territórios não ocupados pelos povos indígenas em 1988, data da votação da Constituição, não seriam reconhecidos.
Os povos indígenas contestam esse marco temporal e argumentam que ocuparam essas terras antes desse prazo, mas que foram expulsos principalmente durante a ditadura militar de 1964 a 1985.
Entre os seis juízes que rejeitaram esta tese na quinta-feira e votaram a favor dos indígenas, dos onze da jurisdição, Luis Roberto Barroso afirmou que “ a ocupação tradicional pode ser demonstrada por vários mecanismos “. Foi inaugurado na quarta-feira, 30 de agosto, após uma suspensão no início de junho e um primeiro adiamento em setembro de 2021.
Desejo de agro-comércio
O julgamento, que deveria abrir precedente, refere-se mais especificamente ao caso do território Ibirama-Laklano, no estado de Santa Catarina (sul), que perdeu a condição de reserva indígena em 2009, após julgamento de ‘um menor instância. Os juízes então justificaram sua decisão explicando que essas terras não foram ocupadas por indígenas em 1988.
Por detrás desta decisão surge a questão da exploração dos terrenos em questão, ultrapassando assim o mero enquadramento legal. O poderoso lobby do comércio agrícola apoia a tese temporal, particularmente porque muitos dos territórios actualmente em estudo estão localizados em “ regiões altamente produtivas “. Este é também um argumento econômico: o Brasil é um dos maiores produtores de soja e carne bovina.
A exploração destas terras para as necessidades da agroindústria poderá ter consequências ambientais significativas, como a poluição dos rios e a desmatamento.
Muitos cientistas consideram que estas reservas constituem baluartes contra o desmatamento, devido ao modo de vida tradicional dos povos indígenas, mais respeitoso com o meio ambiente. Acreditam também que estas terras indígenas desempenham um papel essencial na luta contra o aquecimento global.
Assunto polêmico
O Brasil tem um total de 764 territórios indígenas já demarcados, mas quase um terço deles ainda não foi oficialmente aprovado.
Este é um tema altamente polémico, sobretudo desde a presidência de Jair Bolsonaro, de 2018 a 2022. A aprovação de novas reservas ficou paralisada durante o seu mandato, tendo o homem de extrema-direita cumprido a promessa de nascer”. não desista de um centímetro » de terras para os nativos. Mas o presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, que regressou ao poder em Janeiro, aprovou seis em Abril e prometeu avançar ainda mais neste processo.