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Um vídeo de profissionais de saúde cantando em frente a leitos de hospital vazios, compartilhado dezenas de milhares de vezes desde meados de abril, afirma revelar o “verdade“escondido atrás das consequências da epidemia de Covid-19 no Brasil. A afirmação é enganosa. O trecho mostra uma ala do hospital da cidade de João Pessão, que havia atendido de fato 70 pacientes infectados com o vírus na época de as filmagens, em outros departamentos. A taxa de ocupação dos leitos de terapia intensiva foi de 93% nesta cidade do Nordeste do país.
Na França, este vídeo foi compartilhado centenas de vezes no Facebook e Odisséia (1,2,3…).
“Equipe médica brasileira decidiu mostrar a verdade para acabar com as notícias falsas“, podemos ler no post do Facebook.
“Bela encenação de governos“, considera um usuário nos comentários.”Eles estão mentindo para nós desde o início. Covid-19 não é mais mortal do que o álcooloutro disse.
No vídeo, uma mulher com roupas de amamentar abre cortinas para encontrar leitos de terapia intensiva vazios. Vários profissionais de saúde também podem ser ouvidos e vistos cantando “Porque ele vive“ (“Porque ele vive“), uma canção religiosa em português.
O vídeo foi retransmitido em português, inglês, polonês e romena sempre acompanhado por um texto que implica que ele revela a verdade oculta por trás “notícias falsas“relatado pela mídia e pelas autoridades.
O Brasil está lutando para conter a epidemia de Covid-19, registrando mais de 14 milhões de casos desde março de 2020, de acordo com estatísticas do Johns Hopkins University.
O perfil de vírus ceifou a vida de mais de 400.000 pessoas e mergulhou o país em uma crise econômica profunda. A legenda deste vídeo tenta minimizar a gravidade da situação.
Departamento de hospital em cidade do nordeste do país
No 15º segundo do vídeo, é possível vislumbrar uma miniatura ao lado de uma tela de computador, que aparece com a logomarca da seguradora médica brasileira. Unimed.
Contactada pela AFP, a Unimed disse que o vídeo foi filmado em seu hospital Alberto Urquiza Wanderley. Ele está localizado na cidade costeira de João Pessoa, capital do estado brasileiro da Paraíba, no nordeste do país.
O vídeo foi filmado em uma das unidades de terapia intensiva do hospital durante a noite de 30 a 31 de março de 2021 durante um “período momentaneamente favorável“, explicou um porta-voz da empresa.
“Após um aumento nos casos de Covid-19, houve uma redução, o que na época permitia que a unidade de terapia intensiva dispensasse pacientes“, disse o porta-voz à AFP.
“O uso deste vídeo, acompanhado de um contexto que distorceria esses fatos, é tendencioso e falso“, de acordo com ele.
A cena mostrada no vídeo só foi possível, segundo a Unimed, porque o Hospital Alberto Urquiza está seguindo um “protocolo de emergência“permitindo que o número de leitos em uma unidade seja aumentado ou diminuído dependendo do número de pacientes.
No dia da filmagem do vídeo, por exemplo, 77 pacientes com Covid-19 foram internados em outras unidades de terapia intensiva do hospital e 75 no dia seguinte, disse a Unimed à AFP.
Em 27 de abril, havia 39 pacientes com Covid-19 em leitos de terapia intensiva no Hospital Alberto Urquiza Wanderley.
Uma alta taxa de ocupação de camas
Ao contrário do que afirmam postagens no Facebook, os leitos de terapia intensiva dedicados aos pacientes da Covid-19 na região de João Pessoa estavam quase todos ocupados no momento das filmagens.
30 de março 93% dos leitos de terapia intensiva reservados para pacientes da Covid-19 estavam ocupados em João Pessoa, enquanto 88% eram empregados no estado, segundo dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES).
31 de março, 86% dos leitos estavam ocupados na metrópole e 85% em todo o Estado da Paraíba
Em 22 de abril de 2021, a autoridade sanitária da Paraíba explicou em esta mensagem no Facebook que o número de casos graves diminuiu ligeiramente desde o início do mês devido às medidas restritivas e à campanha de vacinação.
O mês de abril, juntamente com o de março, entretanto, terá sido mais mortal em 14 meses de pandemia neste país de 212 milhões de habitantes, o segundo mais enlutado atrás dos Estados Unidos.
A segunda semana de abril foi a mais devastadora, com dois dias com mais de 4.000 mortes registradas em 24 horas.