Leia histórias infantis para reduzir a dor e o estresse

Leia histórias infantis para reduzir a dor e o estresse

Contar histórias para crianças não as faz dormir apenas à noite. Também ajuda a reduzir a dor e a tensão. É o que mostra um novo estudo do Instituto Dor de Pesquisa e Ensino (IDOR) no Brasil. Um estudo mostrou pela primeira vez que a narração de histórias tem o potencial de trazer benefícios fisiológicos e emocionais para crianças em unidades de terapia intensiva hospitalizadas. O estudo foi publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences.

À medida que a história é contada, ocorre algo que os pesquisadores chamam de “transmissão narrativa”. Por meio da imaginação, a criança pode vivenciar sensações e pensamentos que a transferem para outro mundo, um lugar diferente de um quarto de hospital, e assim sair das condições de recuperação.

A história é um exercício abismal de humanidade. Mitos, religiões e valores sociais se estendem por milhares de anos, orais e escritos. Muitos filmes e romances de sucesso cativam o público com o mesmo mecanismo. Ouvir uma boa história passa de um fato para outro. Esse movimento, carregado pela imaginação, pode criar empatia por eventos e personagens que flutuam de acordo com a interpretação de cada um.

Até agora, as evidências positivas da narração de histórias se baseavam no “bom senso” e, interpretadas literalmente, interagir com uma criança pode distrair, divertir e aliviar o sofrimento emocional. Mas carece de uma base científica sólida, especialmente no que diz respeito aos mecanismos fisiológicos básicos. Observando os processos psicológicos e biológicos que ocorrem durante e após a audição de uma história, os pesquisadores do estudo tiveram a ideia de buscar evidências científicas sobre os efeitos da narrativa em crianças severamente hospitalizadas.

Um total de 81 crianças com idades entre dois e sete anos com condições clínicas semelhantes, como problemas respiratórios causados ​​por asma, bronquite ou pneumonia, foram internadas na unidade de terapia intensiva do Hospital Reddy. Ou São Luiz Japakura, em São Paulo, Brasil. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: 41 deles participaram de um grupo no qual o contador de histórias lia as histórias das crianças por um período de 25 a 30 minutos, enquanto no grupo controle, 40 crianças se viam contando quebra-cabeças propostos pelos mesmos profissionais pelo mesmo tempo.

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Os contos de fadas estimulam a produção de hormônios felizes

Para comparar os efeitos das duas intervenções, amostras de saliva foram retiradas de cada participante antes e depois de cada sessão para analisar as flutuações do cortisol e da ocitocina. Hormônios relacionados ao estresse e empatia, respectivamente. Além disso, as crianças foram submetidas a um teste pessoal para avaliar o nível de dor que sentiam antes e depois de participar das atividades. Eles também realizaram uma tarefa de associação livre de palavras, registrando suas impressões em sete cartões ilustrados com elementos do contexto hospitalar (enfermeiro, médico, hospital, remédio, paciente, dor e livro).

Os resultados foram positivos para todos os grupos, com ambas as intervenções reduzindo o nível de cortisol e aumentando a produção de ocitocina em todas as crianças analisadas, enquanto a percepção de dor e desconforto também foi reduzida, avaliada pelas próprias crianças. No entanto, a grande diferença foi que os resultados positivos para as crianças do grupo de “contação de histórias” foram duas vezes maiores do que os do grupo de “adivinhação”. Esses resultados levaram os pesquisadores a concluir que a atividade narrativa foi significativamente mais eficaz.

Melhor qualidade de vida para crianças hospitalizadas

Outra vantagem deste estudo é que não foi realizado em ambiente artificial, mas sim em unidade de terapia intensiva pediátrica de rotina. A atividade de contar histórias foi realizada individualmente; A criança escolhe a história a ser contada. Dos livros apresentados, os pesquisadores selecionaram títulos disponíveis em bibliotecas regulares e sem vieses emocionais pré-definidos, para que a história não afetasse tanto a reação da criança à atividade. Embora o estilo de contar histórias já tenha sido adotado em muitos hospitais infantis, esta é a primeira evidência forte de seu impacto fisiológico e psicológico. Os pesquisadores veem essa atividade como um método de tratamento eficaz e barato que pode fazer uma grande diferença na qualidade de vida de crianças hospitalizadas em unidades de terapia intensiva.

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Por ser uma intervenção de baixo custo e extremamente segura, provavelmente será implementada em todos os hospitais pediátricos, uma vez que estudos maiores verifiquem sua reprodutibilidade e eficácia.

Crianças mudam palavras e relacionamentos

O impacto emocional da narrativa também foi revelado por meio dos resultados do teste de associação de palavras livre realizado ao final de cada intervenção. As crianças do grupo de história relataram mais emoções positivas do que as do grupo de controle quando expostas às palavras do Hospital, da Enfermeira e do Médico. Por exemplo, as crianças do grupo de controle responderam ao cartão do hospital dizendo: “É para onde as pessoas vão quando estão doentes”. As crianças do grupo de contadores de histórias responderam ao mesmo cartão com a frase “É aqui que as pessoas vão para melhorar”.

Para as ilustrações de enfermeira e médico, o mesmo padrão é observado. As crianças do grupo de controle disseram: “É a mulher má que vem me dar uma injeção”, enquanto as que contavam as histórias diziam frases como: “Ela é a mulher que vem para me curar”.

Embora a pesquisa tenha sido apoiada por contadores de histórias voluntários treinados por uma organização brasileira sem fins lucrativos, os pesquisadores afirmam que contar histórias é uma atividade que pais e professores também podem praticar, proporcionando um espaço para as crianças participarem, escolherem o livro e interagirem com a história. Além de reduzir a ansiedade e o estresse, a atividade ajuda a fortalecer os laços entre a criança, o narrador e outras pessoas do ambiente.

Os autores também observam que os resultados dessa pesquisa de narração de histórias sugerem outras aplicações potenciais para crianças que sofrem de estresse ambiental, como perturbações causadas por uma epidemia. Contar histórias por pais, parentes e amigos pode ser uma maneira simples e eficaz de melhorar o bem-estar de uma criança e pode ser acessado por todas as famílias.

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Fonte

Guilherme Brockington el al. , “Contar histórias aumenta a oxitocina e as emoções positivas e reduz o cortisol e a dor em crianças hospitalizadas”, PNAS (2021). Anais da Academia Nacional de Ciências

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