Cerca de 11,1 milhões de hectares de floresta foram perdidos nos trópicos no ano passado, incluindo 3,75 milhões em florestas primárias, de acordo com o estudo anual da Global Forest Watch (GFW), do World Resources Institute (WRI) e da Universidade de Maryland (28/4/2022).
“São 10 campos de futebol por minuto. E está acontecendo há um ano“, alarmou Rod Taylor, que dirige o programa de florestas do WRI, falando em florestas primárias. A destruição dessas florestas intactas liberou 2,5 gigatoneladas de CO2 na atmosfera em 2021, o equivalente às emissões de gases de efeito estufa. Estufa anual da Índia, segundo os pesquisadores ‘ cálculos.
Mais de 40% da floresta primária perdida em 2021 foi no Brasil, com cerca de 1,5 milhão de hectares cortados ou queimados, seguido pela República Democrática do Congo, com quase 500.000 hectares destruídos. A Bolívia registrou seu maior nível de destruição florestal desde o início das medidas em 2001, com quase 300.000 hectares. Além dos trópicos, o relatório mostra que as florestas boreais do hemisfério norte sofreram a maior perda de cobertura florestal em duas décadas.
Efeito bola de neve
Só na Rússia, uma temporada de incêndios excepcional levou à perda de 6,5 milhões de hectares de floresta, um recorde. Pesquisadores alertam para um potencial “efeito bola de neve“, onde incêndios mais frequentes levam a mais CO2 na atmosfera, alimentando o aquecimento global que aumenta o risco de incêndios florestais.
Esses dados são divulgados quando 141 líderes mundiais se comprometeram na COP26 em Glasgow no final de 2021 a “interromper e reverter a perda florestal até 2030“. Será necessário reduzir drasticamente a destruição da floresta primária a cada ano até o final da década para atingir esse objetivo, alertam os pesquisadores.
“A própria mudança climática está dificultando a manutenção da floresta que ainda temos“, aponta Frances Seymour do WRI, acrescentando que isso mostra a obrigação de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Um estudo recente sugere que a floresta amazônica pode estar mais perto de um “ponto de inflexão“do que o estimado anteriormente. Poderia se transformar em uma savana e liberar grandes quantidades de CO2 na atmosfera.
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“Desastre”
O Brasil, que abriga cerca de um terço das florestas primárias remanescentes do mundo, viu a taxa de destruição de suas florestas acelerar nos últimos anos. A destruição não causada pelo fogo, muitas vezes ligada à criação de áreas agrícolas de acordo com o WRI, aumentou 9% em relação a 2020. Esse percentual supera 25% em alguns estados do oeste da Amazônia brasileira.
“Já sabíamos que essas perdas são um desastre para o clima. Eles são um desastre para a biodiversidade. Eles são um desastre para os povos indígenas e comunidades locais“, insiste Frances Seymour, lembrando que estudos recentes mostram que as florestas também ajudam a resfriar a atmosfera.
Na Indonésia, por outro lado, as ações do governo e do setor privado desaceleraram a perda de floresta primária em 25% em relação a 2020, pelo quinto ano consecutivo, após níveis muito altos. O fim de um congelamento temporário nas novas operações de óleo de palma, bem como os preços do óleo de palma em seu nível mais alto em 40 anos, podem, no entanto, minar esses esforços, de acordo com o WRI.
“É claro que não estamos fazendo o suficiente para fornecer incentivos para aqueles que estão em posição de deter a perda de floresta, para proteger as áreas remanescentes de floresta primária“, observa Frances Seymour.
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